02
de dezembro de 2013 | N° 17632
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Popularidade com vitamina e
xarope
Como
é sabido, a opinião pública pode sofrer alterações rápidas, quase repentinas, assim
como pode manter estável período mais ou menos longo. Observadores do que se
passa entre nós nos dias atuais, têm notado uma fase de certa paralisia por
parte do governo quando este, pelos próprios recursos de que dispõe e das
atribuições que lhe são inerentes, é o maior agente de possíveis
transformações. Nesse particular, a projeção pode ser no sentido de majorar,
manter ou reduzir seus fluxos, e sem falar em sua desmedida gula eleitoral, a
ação governamental, em geral, parece entravada.
Os
fatos do dia estão a mostrar que a maior empresa nacional está a enfrentar
desconforto em razão da resistência da autoridade em suprimir as causas do
fenômeno. É fato notório que os preços dos combustíveis no mercado externo têm
sofrido elevações que projetam seus efeitos nos preços internos. Assim, no
começo do ano, a majoração do preço do petróleo no mercado internacional
importou no aumento dos custos do combustível na bomba.
A
Petrobras tomou as providências no sentido de restabelecer a relação avariada;
quando implantaria as medidas tidas como inevitáveis, a senhora presidente da
República vetou a providência. Não faltou quem sustentasse que os preços
internos seriam mantidos, e esta orientação foi anunciada como definitiva.
Ocorre
que a empresa, que é uma das maiores do país, vinha sofrendo o duro impacto do
congelamento oficial, de modo que o mau desempenho da Petrobras num dos
trimestres do ano em curso, decorreria da decisão presidencial. A questão não é
de somenos, uma vez que, também é sabido, ela não tem como conviver com a atual
orientação.
Nesse
quadro, a senhora presidente, cuja bravura é apregoada, guardava silêncio; até
que a febre se elevou a tais alturas que se tornou inafastável refazer o exame
de alguns meses tanto mais se anuncia revisão dos preços internos dos
combustíveis. Até aí nada há de novo. Quando novidade existisse e ela existe,
essa configura uma nova componente no problema; mas a ela foi atribuída uma
prevalência absoluta, para que governo e popularidade fossem confrades obrigatórios;
a popularidade passou a ser a pedra de toque do governo e sua vitamina.
Ao
que consta, a descoberta é devida aos talentos mágicos do marqueteiro oficial.
Vale recordar que, no início do mês que acaba de findar, grande jornal
estampava com todas as letras que: “apesar de ter intensificado sua situação
política nos últimos quatro meses, a presidente não concretizou a previsão do
marqueteiro João Santana, de que até novembro recuperaria a popularidade
perdida... a recuperação foi parcial e está parada há dois meses... diferentes
segmentos da sociedade, em especial os mais jovens, nunca tiveram tantas
divergências em relação à atuação da presidente”.
Com
efeito, o caso é cheio de paradoxos, o ministro da Fazenda cambaleia em face
dos antagonismos; a Petrobras engrossa a voz e a senhora presidente aguarda as
mágicas do sumo pensador que, embora não faça parte do governo, é o detentor de
seus segredos. Este não teve um voto para adquirir o título e a missão de
marqueteiro, o que não impede que ele exerça o mandarinato na República, que
soma esforços para assegurar a reeleição.
Do
marqueteiro tudo é esperado. Duvide se quiser, mas o futuro do país pode estar
nas mãos do original decifrador, criador e intérprete das intimidades da
popularidade, essa é o xarope salvador dos problemas pendentes. Ainda bem que
haja um mosqueteiro e um xarope, ou vice e versa, que é a mesma coisa.
Impedido
de assistir à conferência de Roberto Saturnino acerca da ética, apraz-me
declarar que, tendo com ele convivido frente a frente durante oito anos no
Senado, posso testemunhar que ninguém possui melhores atributos para versar o
tema. Sua atuação no Senado foi modelar.
Ainda
bem que haja um mosqueteiro e um xarope,
ou vice e versa, que é a mesma coisa.
JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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