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sábado, 5 de junho de 2010
06 de junho de 2010 | N° 16358
PAULO SANT’ANA
As saudades de Pablo
Há dias em que Pablo quase morre de saudade dos tempos em que soltava ou via soltar pandorgas na Rua dos Coqueiros, hoje 17 de Junho, junto do Arroio Dilúvio.
Era um folguedo só, o cordão da pandorga em uma mão, na outra cachos e cachos de amoras, do tempo em que se colhiam amoras nas cercas das casas no Menino Deus.
Há dias em que Pablo quase morre de saudade dos tempos em que, na Chácara das Bananeiras, se reunia com os outros garotos para jogar bola de meia, que não havia dinheiro para comprar bola de couro, sequer de borracha, mas como era feliz o tempo de pobreza de Pablo jogando peladas horas e horas com seus amigos.
Qualquer bola que passavam para Pablo ia parar dentro do gol. Uma unha encravada interrompeu a carreira de Pablo, que tinha tudo para ser o maior centroavante da história do futebol, acima de Di Stéfano.
Há dias em que Pablo quase morre de saudade quando lembra que ficava todos os dias ouvindo o regional do Sargento Pinto, na Rua Veiga, ou o regional do Homero, na Avenida Outeiro.
Pablo tinha apenas 14 anos e se deliciava com o que tocavam e cantavam os músicos, gostava tanto, que os músicos sempre permitiam que Pablo os ouvisse.
Era o tempo em que Pablo se guiava pelos acordes dos banjos, dos bandolins, dos cavaquinhos e dos violões e pela batida do surdo. Se havia acordes na rua, Pablo corria para lá.
Foi naquele tempo que Pablo decorou a letra de mais de mil músicas, que ainda hoje tem na memória, juntadas a outras 1,5 mil músicas que Pablo aprenderia mais tarde e que fazem a perplexidade dos circunstantes quando Pablo por vezes as canta: “Como é que tu sabes tantas músicas?”, perguntam a Pablo. E Pablo silencia. Sabendo que foi uma década inteira que ele gastou ouvindo os regionais do Partenon.
E, um dia, Pablo com 14 anos, o regional do Homero estava pronto para sair e tocar num baile da Rua Mansão, na Azenha, aqui perto dos cemitérios, quando ouviu dos músicos que adoecera o cantor e teriam que animar o baile sem ter quem cantasse.
Homero disse a Pablo: “Tu não te atreves a cantar conosco, guri?”.
E, à noite, no salão de bailes da Rua Mansão, lá estava Pablo à frente do regional do Homero, de calça e camisa modestas, nervoso, quase tremente, mas cantando um samba de sucesso daquela época, lembro-me como se fosse hoje:
Vagabundo que na minha cara der
Tem de fazer testamento, se despedir da mulher.
Se tiver filho, deixe uma recordação,
Cara que mamãe beijou, vagabundo nenhum põe a mão.
Tenho carteira de identidade
Posso provar minha idade
Não sou criança, isto não
Por isso aviso: folga e sopa eu não dou
Cara que mamãe beijou, vagabundo nenhum põe a mão.
Pablo quase morre de saudade ao recordar a noite em que, substituindo cantor adulto, cantou menino e tremente, à frente do regional do Homero.
Foi o primeiro e minúsculo cachê que Pablo ganhou por ser chegado à arte e às palavras.
Que noite de glória! Pablo a considera maior que aquela noite em que cantou, no Beira-Rio quase lotado, com Julio Iglesias.
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