terça-feira, 1 de junho de 2010



01 de junho de 2010 | N° 16353
CLÁUDIO MORENO


Nada de novo

Para fugir dos amargos tempos em que vivemos, não são poucos aqueles que se voltam para o Mundo Antigo em busca de um paraíso perdido, daquela época de ouro em que a vida era mais feliz e o próprio homem era feito de um barro melhor.

Posso imaginar a decepção desses ingênuos quando se dão conta de que – três mil, dois mil anos atrás – já existiam fraudes, corrupção, negociatas, luta desenfreada pelo poder, escândalos públicos e privados – tudo aquilo que muitos pensam ser uma praga exclusiva do mundo atual.

Século após século, as queixas foram tantas que lamentar o relaxamento da moral e dos costumes e decretar que o “antes” era melhor do que o “agora” passou a ser um dos gêneros literários mais cultivados do planeta.

Era a isso, mais ou menos, que se referia Marguerite Yourcenair ao dizer que tudo aquilo que um homem de hoje pode fazer para prejudicar seu semelhante já terá sido feito, ao menos uma vez, por algum grego do passado – ou romano, ou egípcio, ou babilônio, pois o homem pouco ou nada mudou em seus vícios e torpezas.

Plutarco, por exemplo, nos fala de um tal Epícrates, o Barbudo, influente político ateniense que participou de uma comitiva enviada ao rei da Pérsia e voltou rico com as propinas que recebeu.

Descoberto e acusado de corrupção, defendeu-se candidamente, elogiando a generosidade da potência estrangeira e sugerindo que Atenas incluísse alguns pobres nas próximas comitivas, a fim de que eles também pudessem tirar a sua casquinha.

Por sua vez, o grande Temístocles, ao ser alertado de que a melhor maneira de governar Atenas era mostrar-se equitativo e imparcial, ficou indignado, declarando, sem o menor pejo: “Se meus amigos não têm vantagens, se eles só podem obter de mim o mesmo que qualquer zé-ninguém, então de nada me serve ocupar a cadeira de governante”. Como se vê, nossos políticos não inventaram nada.

O presidente Lula zomba das multas que recebe – e, portanto, da Lei e da Justiça? Pois isso também não é novidade. Lucius Veratius, em Roma, também entrou na História por atos do mesmo quilate. Dono de grande fortuna, divertia-se em caminhar pelas ruas e galerias do Fórum aplicando inesperadas bofetadas na cara de pacatos cidadãos – por pura maldade, segundo alguns, ou por cinismo, segundo outros.

Como a lei romana punia o crime de injúria com uma multa pecuniária, o escravo que acompanhava Veratius trazia sempre uma bolsa cheia de moedas, em quantidade suficiente para cobrir o valor de algumas dúzias de tabefes.

Sem culpa ou arrependimento, Veratius pagava o valor da multa, risonho, satisfeito de viver sob um sistema legal que, em vez de puni-lo como ele merecia, limitava-se a estabelecer um preço para praticar suas injustiças.

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