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quarta-feira, 30 de setembro de 2009
30 de setembro de 2009 | N° 16110
DIANA CORSO
Água com açúcar e sangue
Cada fenômeno editorial fala de seu tempo. Se um livro vende mais de 55 milhões de exemplares, provoca furor entre adolescentes e outros mais crescidos, convém investigar-lhe os segredos, certamente revelam algo nosso.
A série de romances da americana Stephenie Meyer, iniciada com Crepúsculo, estendida ao longo dos quatro gordos volumes já publicados, reencontra um ávido público leitor da mesma faixa etária que aclamou Harry Potter uma década atrás. Enquanto Rowling resgatou o valor da magia, o sucesso desta série nos revela overdoses de romantismo.
Trata-se da história de Bella, uma menina comum, pais separados, desajeitada e sonhadora, que chega a uma cidade do interior dos EUA para morar com seu pai. Novata, ela tem seu coração disputado por vários meninos e finalmente o entrega a Edward, um vampiro de 17 eternos anos, lindo e com superpoderes, que a salva constantemente de perigos.
Além disso, ele considera que seu sangue é o cheiro mais irresistível que ele sentiu nos últimos séculos, mas se detém, num erotismo contido. Afinal, ele pertence a uma família que não bebe sangue humano. Mas há os vampiros tradicionais e eles também consideram o cheiro de Bella apetitoso.
São centenas de páginas de paixão e exaltação das qualidades de Edward, que é tão poderoso quanto amante dedicado. Misture isso com desentendimentos, desencontros, lutas entre vampiros bons e maus e acrescente lobisomens. No centro dessas contendas, está sempre a irresistível Bella, como se Troia não fosse mais do que uma disputa por Helena.
Mais do que um romance para meninas, o que temos aqui é o protagonismo feminino, cada vez mais comum na literatura infanto-juvenil, e a força de ideais de sensibilidade que outrora eram restritos às mulheres.
Muitos meninos também leem essas histórias e sentem-se representados pelos poderosos vampiros e lobisomens, príncipes sobrenaturais. Por mais que falem na leviandade das novas gerações, expostas a muita sexualidade explícita, observamos surpresos que o romantismo voltou.
Meyer aponta para algo novo: a liberdade das mulheres, sua crescente influência nas ideias dominantes, estende seu poder para o discurso amoroso das novas gerações.
Sonhadores, meninos e meninas valorizam a necessidade de dar tempo e espaço à sedução, aos jogos de esconde-esconde, à tortuosa e conflitiva iniciação sexual. Com a carnalidade de açougue da “ficação” dos jovens, convivem sonhos que bem conviriam a Romeu e Julieta. Nem tudo é tão simples como parece.
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