segunda-feira, 14 de setembro de 2009



Das coisas visíveis e invisíveis

Certa vez perguntaram ao escultor Michelangelo como fazia para criar obras tão magníficas. “É muito simples”, respondeu Michelangelo. “Quando olho um bloco de mármore, vejo a escultura dentro. Tudo que tenho que fazer é retirar as aparas”.

No fundo, a vida é a arte de ver além das aparências. A obra de arte de nossa existência está, muitas vezes, coberta por anos de medos, culpas, indecisões.

Mas se nós decidirmos tirar estas aparas, se não duvidamos de nossa capacidade, seremos capazes de levar adiante a missão que nos foi destinada. A seguir, algumas histórias sobre a arte de enxergar melhor o que está acontecendo:

Acreditando sem ver

Um imperador disse ao rabino Yeoschoua ben Hanania:

- Eu gostaria muito de ver o vosso Deus. - É impossível - respondeu o rabino.

- Impossível? Então, como posso confiar minha vida a Alguém que não posso ver?

- Mostre-me o bolso onde tem guardado o amor por sua mulher. E deixa-me pesa-lo, para ver se é grande.

- Não seja tolo; ninguém pode guardar o amor num bolso.

- O sol é apenas uma das obras que o Senhor colocou no universo e - no entanto - você não pode olha-lo diretamente. Tampouco pode ver o amor, mas sabe que é capaz de apaixonar-se por uma mulher ,e confiar sua vida a ela. Não lhe parece evidente que existem certas coisas em que confiamos sem ver?

O rosto oculto

Nasrudin foi até a casa de um homem rico, pedir dinheiro para obras de caridade.

Um pajem veio abrir o portão.

- Anuncie que o mullah Nasrudin esta aqui, e precisa de dinheiro para ajudar os outros - disse o sábio.

O pajem entrou, e voltou minutos depois.

- Meu senhor não está em casa.

- Então, permita-lhe que eu lhe deixe um conselho, mesmo que ele não tenha contribuído para as obras de caridade. Da próxima vez em que não estiver em casa, peça-o para não deixar o seu rosto da janela - senão as pessoas podem achar que ele está mentindo.

Vendo a si mesmo

- Quando olhar os seus companheiros, procure enxergar a si mesmo - disse o mestre japonês Okakura Kakuso.

- Mas isto não é uma atitude egoísta? - questionou um discípulo. - Se ficarmos preocupados conosco, jamais veremos o que os outros tem de bom para oferecer.

- Oxalá sempre conseguíssemos ver as coisas boas que estão à nossa volta – contestou Kakuso. – Mas na verdade, quando olhamos o próximo, estamos apenas procurando defeitos. Tentamos descobrir sua maldade, porque desejamos que seja pior que nós.

Nunca o perdoamos quando nos ferem, porque achamos que jamais seríamos perdoados por ele. Conseguimos feri-lo com palavras duras, afirmando que dizemos a verdade – quando estamos apenas tentando ocultá-la de a nós mesmos. Fingimos que somos importantes, para que ninguém possa ver nossa fragilidade.

“Por isso, sempre que estiver julgando o seu irmão, tenha consciência de que é você quem está no tribunal.”

Contemplando o perigo

O discípulo disse ao mestre:

- Tenho passado grande parte do meu dia vendo coisas que não devia ver, desejando coisas que não devia desejar, fazendo planos que não devia fazer.

O mestre convidou o discípulo para um passeio.No caminho, apontou uma planta e perguntou se o discípulo sabia o que era.

- Beladona. Pode matar quem comer suas folhas.

- Mas não pode matar quem apenas a contempla.Da mesma maneira, os desejos negativos não podem causar nenhum mal – se você não se deixar seduzir por eles.

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