segunda-feira, 21 de setembro de 2009



21 de setembro de 2009 | N° 16101
PAULO SANT’ANA

A Padre Chagas

De fato, estamos vivendo uma revolução de progresso, civilização e, posso até arriscar, de humanidades no perímetro que compreende a Rua Padre Chagas e adjacências, no Bairro Moinhos de Vento.

Sequer há em Buenos Aires e Rio de Janeiro, com a decadência de La Recoletta e Ipanema, um lugar mais aprazível para se transitar e para estacionar os corpos do que na região da Padre Chagas e vias circunstantes.

Chegou ao ponto da Padre Chagas e confluentes se tornarem atração turística mais magnética do que os nossos shoppings, a grande novidade do final do século passado.

Houve uma espontânea atração à Padre Chagas e seus arredores de tudo que de mais bom gosto tivemos para expressar nossa arquitetura predial e humana.

Eu descobri, por exemplo, anteontem, uma padaria espetacular na Padre Chagas, com variedade e qualidade de produtos superior até mesmo em quantidade às da Banca 43 do Mercado Público.

Ou seja, a Padre Chagas e seus outros cantões limítrofes passam a ser o lugar ideal para se sentar à mesa dos cafés e bares, como também um oásis para o abastecimento de nossos lares.

Quer música? Tem lá. Quer comer? Ali você encontra os mais deliciosos acepipes, as comidas mais saborosas, os doces e sorvetes das mais sofisticadas e variadas correntes gastronômicas.

Quer conversar? Não há recantos mais hospitaleiros para um bom papo do que lá. Se alguém deseja encontrar as pessoas mais interessantes, toca para a Padre Chagas que em seguida se formará, naturalmente, como em camadas tectônicas, uma roda que jamais se poderia formar em outro lugar da cidade.

Chegou ao ponto em que já deixei, como tanta gente, de viajar, para me dirigir à Padre Chagas. Ali me espera sempre o inesperado, ali me acalanta sempre o acalentado, ali me enternece o espírito e me encanta os olhos sempre a ternura visual e auditiva das pessoas e das coisas.

Estes dias aconteceu-me uma coisa que está mudando a minha vida: marquei uma consulta com um médico em um café da Padre Chagas.

E é tal a força telúrica e solidária do lugar que já me sinto a criar o costume e a moda: vamos todos marcar as consultas com nossos psicanalistas no bares e cafés da Padre Chagas.

Abaixo os consultórios frios, insossos, herméticos dos médicos e psicanalistas.

Vou sugerir ao otorrrino Sady Selaimen da Costa, ao rei do pescoço Nédio Steffen e ao clínico geral Mathias Kronfeld que levem seus equipamentos, inclusive otoscópios e estetoscópios para determinadas mesas de bares e cafés da Padre Chagas e ali atendam seus clientes, naquele ambiente que por si só já significa a cura geral e irrestrita dos pacientes.

Isto mesmo, aqueles bares, cafés e bistrôs da região da Padre Chagas compreendem a cura da alma, a cura do corpo e a consequente e ansiada cura do cansaço, da náusea, da depressão e do tédio que perturbam nossas vidas.

Nem a falta de estacionamento ameaça o sucesso da Padre Chagas. Essa bolação da Zona Azul é fantástica. Ali naquele oásis urbano estupendo, extinguiram-se como por um milagre os flanelinhas e os inconvenientes.

Ali só tem gente agradável, só tem lugares repletos de beleza estética humana e material e de belas imagens cotidianas.

Que lugar! Parece até que ali é a zona irrepreensível da felicidade. A felicidade que supomos existir está ali. A felicidade que queremos, a que sonhamos e a que merecemos está ali.

Ali se firma, resoluto, o verdadeiro conceito de cidade, que significa a aglomeração de pessoas e de prédios que servem à funcionalidade da vida em comum.

Que lugar!

Quem quiser ter uma ideia do que sejam as paragens do Éden, corra para lá.

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