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quarta-feira, 23 de setembro de 2009
ANTONIO DELFIM NETTO
A hora da inovação
A NATUREZA das dificuldades criadas pela crise financeira mundial que acabou desabando sobre a economia real e o fato de não termos aumentado (relativamente) nossa participação no mercado mundial de produtos industrializados sugerem por que a economia brasileira revelou resistência extraordinária.
Não se discutem as vantagens comparativas da agricultura brasileira (fortemente prejudicada pelas deficiências da infraestrutura), os extraordinários avanços de nossa pesquisa tecnológica, a nossa situação privilegiada na substituição (com grande vantagem energética) de combustível fóssil por energia renovável de massa.
E, muito menos, discute-se o fato de que o aumento da demanda de nossos produtos agrícolas, juntamente com a desvalorização do dólar, provocaram um aumento dos nossos preços de exportação que, em menos de seis anos, libertaram a economia brasileira de sua dependência externa. Esse resultado extraordinário foi produto de pelo menos cinco causas:
1ª) da continuidade da política monetária e fiscal;
2ª) da garantia (às vezes duvidosa) da propriedade privada na agricultura e do "espírito" de apropriação dos ganhos tecnológicos;
3ª) dos benefícios dos investimentos na Embrapa desde o início dos anos 70;
4ª) de políticas de subsídios que, graças à concorrência no setor agrícola, foram largamente devolvidos ao consumidor na forma da redução da relação de preços agrícolas/preços industriais; e
5ª) da extraordinária ampliação dos preços externos.
A sustentação do nível de atividade e do emprego foi, entretanto, consequência da existência de um setor industrial com maior sofisticação do que a sugerida por seu tamanho. Foi o forte mercado interno brasileiro, muito mais do que a política monetária sempre atrasada e tímida e a política fiscal de duvidoso "anticiclismo", que sustentou o nível de atividade.
É este mercado urbano (que perdeu a exportação industrial) que está pagando o preço do ajuste produzido pela "supervalorização" do real.
Estamos num novo momento da história da economia brasileira. É preciso pensá-la 25 anos à frente.
Ela, certamente, não será nem a continuação da atual, nem apenas o "pré-sal", apesar de sua visibilidade e importância decisivas. Ela será o que fizermos para antecipar o ajuste do setor agrícola (com a mudança do clima), do setor industrial (com as novas "ideias-força" da energia renovável) e do setor de serviços (com as novas tecnologias).
contatodelfimnetto@uol.com.br
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