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sábado, 12 de setembro de 2009
12 de setembro de 2009 | N° 16092
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES
A morte do Anguera
José Gonzaga Lewis Bicca nasceu nos pagos da Cachoeira mas mocito ainda foi com os pais e com o irmão Miguel para São Borja atrás das plantações de arroz. E se aquerenciaram lá. Foi um amor profundo esse entre os Bicca e a querência missioneira.
Tio Bicca, o patriarca do pequeno clã, era uma pessoa admirável. Quando ele morreu senti muito e registrei isso aqui em Zero Hora. José, o irmão mais velho dos dois filhos do tio Bicca, era um talento multifacetado.
Um dos seus apelidos entre nós era Professor Pardal, porque ele tinha uma facilidade extraordinária de mexer com as coisas. Não havia curiosidade elétrica, mecânica ou de carpintaria em que ele não mexesse com autoridade.
Em São Borja tornou-se amigo de Apparício Silva Rillo. Se encontraram nas praças de esporte (o poeta era apaixonado por futebol e o Bicca gostava mais de judô). No esporte concluíram que gostavam mais da música e na música mais da canção gauchesca.
Pronto! O Rillo era poeta e o Bicca era tocador de violão e cantor. Começaram a surgir canções dessa parceria, algumas das quais são antológicas.
Aí surgiram as pescarias. É quando eu entro na história. O Rillo era meu amigo de encontros gauchescos e noitadas de poesia e me convidou para uma pescaria com a turminha dele em São Borja. Fui e lá conheci pessoas cuja amizade guardo até hoje.
Na manhã do segundo dia de pescaria tocou ao Bicca e a mim revisar uma rede e nela estava malhado um baita dourado. Nós dois, conhecidos de véspera, estávamos cheios de cerimônia um com o outro: era Dr. Fagundes para cá, seu Bicca para lá. Eu falei:
– Pode tirar o dourado, seu Bicca. E ele, respeitosamente:
– Não, Dr. Fagundes, o senhor é nosso convidado, a honra é sua.
– Que esperança, seu Bicca, o senhor é da casa...
Aí nos olhamos, com água pela cintura e dissemos ao mesmo tempo: “Tu estás é com medo do peixe, seu filho da puta!”, e caímos na gargalhada. Nasceu nessa hora uma amizade que durou 50 anos e nem a morte do Bicca vai estremecer. Continuamos com a pescaria todos os anos, Semana Santa por Semana Santa.
Foi numa dessas, quando eu tinha levado para o grupo Carlinhos Castillo, que esse grande amigo teve a ideia de realizar um festival de canção. Surgiu assim o Festival da Barranca, que hoje é famoso. A mola mestra do festival é o grupo Os Angueras, criado sob a liderança do Rillo.
O Bicca tocava violão e cantava maravilhosamente bem. Era o próprio Anguera, o índio missioneiro que, depois de batizado, virou alegria das festas e dos bailes, segundo a lenda. E é assim que ele vai permanecer na memória de todos nós: alegre, talentoso, cheio de energia e de amor por São Borja.
Daqui para frente, em cada Festival da Barranca quando eu escutar o tinir de uma viola, ou o acorde de uma voz profunda e bonita, vou pensar: olha o Bicca aí, o anguera generoso continua conosco. Para sempre.
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