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quarta-feira, 30 de setembro de 2009
30 de setembro de 2009 | N° 16110
PAULO SANT’ANA
O voo das borboletas
O meu tema hoje se refere a um aspecto da vida humana que me tem intrigado a sobejo: a liderança.
Seja a liderança de qualquer grupo ou em qualquer situação, seja a liderança de uma nação, de um Estado, de uma empresa, enfim, de qualquer conglomerado humano grande ou pequeno.
O líder é sempre uma pessoa atormentada. Quase sempre pela responsabilidade.
Ocorre-me agora, exatamente agora enquanto escrevo, que toda professora é uma líder, ela é quem conduz os alunos e a sala de aula.
Por sinal, no fim desta coluna estarei abordando a face mais característica de um líder, que é a condução dos seus liderados.
Do líder emanam as instruções para seu grupo, emanam as luzes para seu grupo, emanam o otimismo e a confiança, tudo emana do líder.
É prosaico dizer, mas um grupo sem líder é como um corpo sem cabeça.
Um grupo sem líder é como uma mulher sem pés e mãos bonitos, empaca tudo ali, e nem uma mulher assim, sem encantos nos pés e nas mãos, mesmo que seja bela, pode ser considerada bela.
Vejam o caso dos animais. Todas as espécies, em todos os grupos, têm líderes.
Por trás de qualquer manada de elefante, embora não se perceba, nas longas caminhadas da manada em busca de água ou de qualquer outro alimento, existe um líder. E, nas manadas de elefantes e nos bandos de leões, não raramente, os líderes são femininos.
Não faz estranhar que as fêmeas de algumas espécies animais sejam as líderes, porque na espécie humana, em última análise, as mulheres também são as líderes. Basta que se diga que se criou o termo dona de casa, que indica claramente quem manda na célula principal do agrupamento, que é a família, o domicílio.
Líder, portanto, é quem vai na frente, quem está na frente, quem conduz os outros.
O líder é uma pessoa diferenciada, há até casos raros em que o líder não é quem comanda, não é quem vai na frente e sim quem está por trás.
O líder tanto distribui as coordenadas quanto as recebe dos liderados, o líder costura, inflama, constrói, anima, mentaliza o que os outros confeccionam.
Dá para sintetizar numa só imagem o papel do líder: a de uma fileira indiana de pessoas que caminham no meio de uma floresta selvagem.
Lá vai a fila indiana de pessoas em busca de um objetivo.
E, na frente da fila indiana, de umas 30 pessoas, vai o líder, é lógico.
Ao líder, que vai na frente da fila na floresta, cabe desbastar o caminho com o facão. Vai avançando a trilha a golpes de facão que vão derrubando os galhos, os nós, os cipós. É estafante o trabalho do líder na abertura da trilha. Os outros todos vão apenas atrás, na cauda, no rastro da tarefa do líder.
Além de ter de desbastar os vegetais da trilha, o único que corre risco entre toda a fila indiana é o líder: é ele, por ir na frente, quem tem a posição temerária de receber as mordidas das serpentes. Mas é claro: por vir na frente, o líder é quem primeiro invade os ninhos das serpentes e por isso pode receber a dura punição das picadas venenosas das cobras.
Parece, portanto, que vida dura é a do líder. No entanto, apesar dessa dureza, ao líder é que cabe o esfuziante privilégio, o deleite inimitável, o prazer incomensurável de, por seguir na frente dos outros na trilha, sendo o primeiro que sacode os galhos da floresta, por isso conseguir ver, o primeiro e único a assistir ao alçar do voo das borboletas.
Quem já assistiu ao espetáculo extraordinário do alçar de voo das borboletas coloridas na floresta?
Assistir primeiro e unicamente a esse espetáculo é privilégio, compensação e recompensa do líder durante a caminhada.
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