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sábado, 12 de setembro de 2009
12 de setembro de 2009
N° 16092 - CLÁUDIA LAITANO
Treco estético
Foi uma amiga minha, no intervalo de um espetáculo que eu nem lembro mais qual era, quem cunhou a expressão, e eu a adotei imediatamente, reconhecendo ali o termo exato para definir uma sensação inexata: o treco estético.
Impossível, e inútil, definir um treco estético para quem nunca passou por um, mas muita gente que já teve essa sensação pode estar acostumado a usar termos mais elegantes para definir a experiência – epifania, por exemplo, uma palavra de origem religiosa que foi sequestrada de seu sentido original, de revelação divina, para ganhar o contexto laico da experiência de iluminação artística.
O termo é bonito, mas não me sinto à vontade para chegar ao trabalho de manhã anunciando para os colegas que tive uma “epifania”. Simplesmente não me soa como algo que possa ser dito sem que metade do frescor da experiência se perca no meio do caminho sob o peso erudito da palavra.
O treco estético, conforme a definição do meu dicionário particular, é o resultado de uma combinação nada trivial entre técnica, sentido e momento. No caso de um poema, por exemplo, seria uma mistura perfeita entre o talento do poeta, a percepção individual do leitor e o momento da leitura.
De nada adiantam o poeta e o poema se o leitor estiver distante, distraído, mal-humorado, com dor de dente. O treco estético exige uma certa disposição de espírito, uma disponibilidade à vertigem (o treco aqui é aquele que as nossas avós usavam quando alguém passava mal de repente e ninguém sabia do quê). O treco estético nos emociona, mas não apenas – nem todas as situações emocionantes são esteticamente marcantes.
É preciso que o objeto de fruição nos dê a certeza não apenas de que estamos diante da excelência artística, mas também de que aquela obra foi feita para nós, expressando exatamente aquilo que sentimos, mas de uma forma que nos supera, por sublime e vertiginosa. Um flash, daqueles explosivos, de magnésio, capaz de romper a rotina de meia-luz a que nossos olhos e ouvidos estão acostumados.
É certo que olhos cansados nem sempre estão alerta para que a emoção da beleza nos toque da forma ideal, mas às vezes a experiência pode ser intensa o suficiente para despertar até os quase mortos.
Aconteceu comigo na última quinta, em um dos tantos espetáculos da invencível agenda de grandes atrações do Em Cena. Era o show de José Miguel Wisnik, Luiz Tatit e Arthur Nestrovski, cheio de canções em que letra e música conversam de forma tão harmoniosa e inteligente que parecem acordar o gênero da mesmice dominante.
Mas foi uma canção específica a causa do “treco estético”, uma parceria entre Wisnik, o jovem músico Marcelo Jeneci e o porto-alegrense Paulo Neves – um poeta assombrosamente talentoso, ainda sem o reconhecimento merecido em sua cidade natal. A canção se chama Feito pra Acabar.
O que não acaba é a vontade de ouvir outra vez – e a gratidão a Paulo Neves por mais este treco estético.
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