quarta-feira, 23 de setembro de 2009



23 de setembro de 2009 | N° 16103
PAULO SANT’ANA


O fracasso do dia

Foi um fracasso enorme a comemoração, ontem, do Dia Mundial sem Carro: a Avenida Ipiranga estava completamente engarrafada.

É um absurdo comemorar esses dias especiais: Dia Mundial sem o Marido, Dia Mundial sem o Cigarro, Dia Mundial sem o Chiclete.

Nunca vi tamanha asneira.

O que as pessoas pensam desses “dias”? Que um só dia de abstenção ou abstinência não adianta nada. O certo é esta campanha: Crack, Nem Pensar. Não por ser da RBS. Mas é que uma campanha tem de ser para sempre, não deve escolher só um dia. Ou é para sempre, ou não se faça campanha nenhuma.

Também aconteceu ontem uma falsa esperteza global: cada um pensou que seria um dia ideal para dirigir, o trânsito estaria manso e tranquilo, com os “bobos” deixando seus carros nas garagens e usando o transporte coletivo.

Aconteceu então que todo mundo foi usar desse estratagema, e Porto Alegre e o Brasil inteiro ficaram engarrafados nas grandes cidades.

Quem já tem mais de 50 anos, como eu, fica com saudade da juventude. Pura tolice.

A gente inveja os jovens esquecendo que já se foi jovem e eles têm o mesmo problema que tínhamos na idade tenra: aborrecimentos, tédio, angústia, desemprego, incerteza quanto ao futuro etc.

Então, o tempo é que é o senhor da razão: a vida pode ser boa ou ruim na juventude e na velhice, tudo depende da sorte e/ou do esforço e inteligência que se cometer para melhorá-la.

Tenho me ocupado em ouvir as gravações sobre o escândalo da Operação Rodin, a roubalheira que havia no Detran.

Não tem nada de novo nas gravações quanto ao conteúdo e mérito, só quanto à forma e ao estilo.

Então, que fique claro que sob o meu ponto de vista houve uma roubalheira, não transijo disso.

O que eu queria dizer é que se me gravarem, se gravarem o meu leitor ou a minha leitora, nas conversas que ouvirão os analistas das gravações, sempre encontrarão nos diálogos cifrados ou com cuidados um certo comprometimento.

Eu já escrevi aqui que sou contra todo tipo de gravação por parte das autoridades porque ela atenta contra o artigo quinto da Constituição, que não permite a violação da intimidade, da privacidade das pessoas.

Sou só a favor de gravar-se uma pessoa quando estiver em jogo a vida de outra pessoa, um exemplo típico é um sequestro que está sendo planejado ou se desenrolando, com a vítima em poder dos sequestradores.

Do jeito que é, grava-se a tudo e a todos. Há gravações que são feitas antes de as autoridades pedirem ao juiz que as conceda. Isso é um absurdo e um crime, afirmo. Ainda mais com tantos órgãos autorizados a gravar, alguns até envolvidos em brigas filosóficas, de competência ou existenciais intestinas.

Mas onde eu queria chegar é que qualquer conversa demorada pode se constituir, sob o ponto de vista de quem está investigando um fato, num indício, numa suspeita de que esta ou aquela frase interessa à investigação.

Não estou defendendo nenhum réu, até mesmo porque no escândalo do Detran existem réus indefensáveis.

O que quero dizer e afirmo é que os nexos encontrados em conversas soltas ao vento podem ser falsos muitas vezes.

E aí há que se pensar também se essas gravações podem ser publicadas antes de os réus que delas participaram serem condenados.

Isso é outra coisa que demandaria um século debater.

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