terça-feira, 29 de setembro de 2009



29 de setembro de 2009 | N° 16109
MOACYR SCLIAR


Verdades & mentiras

Washington é a sede do mais poderoso governo do mundo. Mas é também uma cidade bonita, agradável, com um impressionante conjunto de museus de arte e de ciência, que ficam todos no mesmo lugar (o Mall) e são, em sua maioria, gratuitos.
Recentemente um novo, e sensacional, museu juntou-se ao grupo: é o News Museum, seguramente o melhor museu de jornalismo do mundo, onde passei mais de cinco horas (e não vi tudo).

Logo que cheguei, uma emoção: uma tela mostrava a primeira página de grandes jornais, naquele dia. E que jornal estava na tela, no momento? Isto mesmo, a Zero Hora. Senti um orgulho que vocês não podem imaginar. Só não fiz um comício ali para não dar escândalo.

Bons jornais não faltam nos Estados Unidos, e o Washington Post é um exemplo. Foi, lembrem, o jornal que denunciou o escândalo de Watergate, que levou à queda de Richard Nixon (isto é lembrado no museu).

Nos últimos dias, jornais e noticiários de tevê têm abordado dois assuntos: a reforma da assistência médica e, sobretudo, a notícia de que o Irã teria um segundo reator nuclear. O que vem se juntar à recente declaração de Ahmadinejad reiterando (com arrogante orgulho) a negação do Holocausto.

O presidente do Irã deveria visitar um outro famoso museu de Washington, o Museu do Holocausto, onde há uma impressionante documentação do genocídio judaico na II Guerra, e também das perseguições contra ciganos, minorias sexuais, deficientes e dissidentes políticos.

São centenas de fotos, de documentos, de filmes, de objetos que comprovam de forma sombria, dolorosa, crimes monstruosos. E a pergunta se impõe: se Ahmadinejad nega o Holocausto, o que o impede de negar planos de desenvolver um artefato nuclear?

Ele pode, claro, dizer o que lhe convém. O problema surge para aqueles que, à distância, apoiam-no, sobretudo por sua posição antiamericana. Ou seja, a esquerda.

Este termo, que no passado designava aqueles que lutavam por um mundo melhor, mais justo, um mundo sem divisões de classe, sem preconceitos, este termo tornou-se completamente impreciso, e hoje é usado até por políticos bizarros, quando não francamente perigosos. Não por outra razão, aquela posição de “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” é muito duvidosa.

De repente, a esquerda começou a ter “amigos” que tornam a direita completamente desnecessária. Em termos de negação do Holocausto, o que diferencia Ahmadinejad de um neonazista?

A mentira é a mesma. A esquerda não deve, não pode mais preferir a “mentira progressista” à “verdade reacionária”. Foi isto que serviu de argumento para o estalinismo e para o Muro de Berlim (ao qual o News Museum dedica uma seção).

Museus nos ensinam preciosas lições, mas não precisamos deles para descobrir o caminho da verdade. Coerência, bom senso, honestidade intelectual resolvem este problema. E é bom que este problema seja resolvido antes que tragédias aconteçam.

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