quinta-feira, 24 de setembro de 2009



24 de setembro de 2009 | N° 16104
PAULO SANT’ANA


Asilo enjambrado

O Rio Grande do Sul acordou perplexo ontem: todos foram abrir Zero Hora pela penúltima página e não estava ali esta coluna.

Um astucioso publicitário da Agência Escala havia comprado um anúncio conjugado que compreendia a penúltima e a antepenúltima página deste jornal.

Os leitores foram brindados com um inteligente anúncio das Lojas Colombo.

Mais talentosa foi ainda a Agência Escala, porque o preço das duas páginas custou um quinto do que seria o anúncio nas páginas 2 e 3 de ZH e a leitura acabou sendo 10 vezes maior.

O fato virou ontem um case que vai embasar a escolha do Publicitário do Ano, ninguém poderá bater este feito espetacular do marketing da mídia impressa; o anúncio foi comprado por preço irrisório perto da nobreza da penúltima página, que, como se sabe, há décadas é a mais lida do jornal.

Disseram-me hoje que Lojas Colombo entrou ontem em negociação com ZH para desde já deixar encomendado espaço idêntico para o Natal deste ano e Dia das Mães do ano que vem.

O diabo é que rege o mercado publicitário uma tabela sobre as partes mais lidas dos jornais e, segundo me comunicaram, o preço de duas páginas no mesmo local usado ontem dobrou nas últimas 24 horas.

É um fato assombroso.

E tanto mais se torna por ter sido uma campanha das Lojas Colombo que consiste em amarrar seus anúncios em várias páginas de ZH, fazendo com que atinja sua culminância na penúltima página do jornal, onde modestamente escrevo.

Não bastasse isso e, pela terceira vez na semana, ontem, um cronista usou a expressão “conversinha” para designar “conversa fiada”’, termo que criei há poucos dias na imprensa gaúcha.

É inumerável a sequência de palavras cujos novos significados crio ou adoto. E, tão logo caem no gosto do público, em seguida os cronistas, num efeito manada, passam a usar todos os dias as expressões que elaboro.

Sinto-me honrado. Nada há que orgulhe mais um colunista do que ser usurpado em seu direito autoral, sendo imitado por seus admiradores em expressões de livre uso mas de clara e indiscutível propriedade privada.

Eu e todos já tínhamos visto um presidente da República ser deposto em qualquer lugar do mundo, refugiar-se então numa embaixada estrangeira dentro do território em liça.

O que nunca tínhamos visto é o que está acontecendo incrivelmente agora: um presidente hondurenho foi deposto, saiu de seu país, agora voltou para lá com a visível ajuda do governo brasileiro e refugiou-se na embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

É um fato inédito e assustador.

O que espanta no episódio é o Brasil astutamente ter montado a devolução do presidente deposto de Honduras ao território de seu país, depois de lá ter fugido.

Ou seja, o Brasil concedeu, em sua embaixada, asilo, dentro de Honduras, a um presidente que não morava mais em Honduras, nunca foi visto nada igual.

Em outras palavras, o Brasil criou em Honduras um domicílio para o presidente deposto. Só que, se foi cessado esse domicílio pelo governo que assumiu o poder, só ele poderia devolvê-lo ao desterrado, nunca um Brasil que nada tem a ver com a história e meteu-se nela de modo atravessado.

O excesso de protagonismo do Brasil não pode ser encarado como uma frivolidade diplomática, e sim como uma grave intromissão nos interesses de uma nação estrangeira.

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