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quarta-feira, 23 de setembro de 2009
23 de setembro de 2009 | N° 16103
DAVID COIMBRA
Uma irmã linda, outra feia
Raquel e Lia eram irmãs. Raquel, que em hebraico significa “ovelha”, era linda; Lia, que em hebraico significa “gazela”, era feia. A história delas é narrada no Gênesis, o primeiro dos 73 livros da Bíblia. Ou seja: desde o princípio do mundo isso de haver uma irmã linda e outra feia na mesma família rende boas histórias.
Jacó, um dos patriarcas do povo hebreu, neto de Abraão, o fundador das três grandes religiões monoteístas, Jacó era primo dessas duas irmãs. O pai delas, tio de Jacó, chamava-se Labão. Nome estranho, certo, mas não menos do que Wianey.
Jacó, que não era bobo, apaixonou-se pela bonita. Pediu-a em casamento. Labão concordou, mas interpôs uma condição: Jacó teria de trabalhar de graça para ele durante sete anos. Jacó topou, donde se conclui que Raquel devia ser mesmo a mulher mais linda da Mesopotâmia.
Depois de sete anos se esfalfando feito um subeditor no plantão de sábado, Jacó enfim viu chegar o dia do casamento. Sentia-se tão feliz com a ideia de se libertar e possuir a mulher amada que bebeu demais durante a festa.
À noite, enquanto o noivo se abraçava aos convidados e dizia te considero pra caramba, Labão mandou que Lia, a feia, se enfiasse no leito conjugal. Quando Jacó chegou, meteu-se entre os lençóis e consumou o ato com Lia, balbuciando:
– Du é a minha brinzezinha, Raquel...
No dia seguinte... Ah, o dia seguinte... Todos os homens já experimentaram a medonha sensação que Jacó experimentou naquela manhã. Ao despertar, ele abriu os olhos pensando cara, como a vida é boa, virou-se para o lado e... WOLFREMBAER!!! O que é que aquele xis-bacon estava fazendo ali???
Jacó correu furioso até Labão, mas Labão era como a maioria dos comerciantes brasileiros: não aceitava devoluções. Jacó reclamou que havia sido enganado, e aí Labão veio com uma conversinha, explicou que era tradição casar a filha mais velha antes da mais nova e bibibi. Naqueles tempos em que não havia Engov, Jacó, decerto com a cabeça latejando, acreditou. Concordou em ficar com a feia, mas queria casar com a bonita também. Labão aceitou. Com uma condição:
– Vai ter que trabalhar outros sete anos de graça.
Jacó suspirou e topou. Essa Raquel devia ser mesmo uma côsa. Fico imaginando-a: uma mulher de pernas de louça e voz de leite condensado e... bem, você sabe. O fato é que, depois de mais sete anos suando como um moto-boy, Jacó se casou com Raquel.
Labão, mostrando afinal alguma generosidade, deu duas moças de presente às filhas. Não como criadas, apenas para lhes fazer companhia. Zilpa e Bila, chamavam-se elas. Nomes estranhos, sei, mas não menos do que Suélen.
Jacó, obviamente, preferia a bonita, e passava quase todas as noites com ela. Mas vez em quando decidia dar uma variada, dormia com Lia e, sempre que fazia isso, blup, Lia engravidava. Teve quatro filhos, um atrás do outro, enquanto Raquel, nada.
Naqueles tempos a turma ainda estava na atividade de povoar a Terra e tudo mais. Assim, Jacó passou a admirar a fecundidade de Lia. Raquel, aflita, decidiu contragolpear. Deu sua dama de companhia Bila ao marido, que nela fez dois filhos: Naftali, ou “engenhoso”, e Dã. Algum gaiato pode achar que o menino se chamava Dã por ser meio abobado. Não: Dã quer dizer “julgamento de Deus”.
Nesse meio tempo, Lia, que não queria perder para a irmã, deu Zilpa a Jacó, e nela Jacó fez outros dois filhos de nomes interessantes: Gade, “vindo por acaso”; e Aser, “felicidade”.
Jacó, portanto, estava bem abastecido de filhos e mulheres. Mas ainda preferia a bela Raquel e praticamente só dormia com ela. Até que um dia o filho mais velho de Lia lhe trouxe algumas mandrágoras para comer. Nunca comi uma mandrágora, mas já li a respeito.
Sei que as bruxas da Idade Média adoravam mandrágora, uma planta que tinha o apelido de
“Maçã de Satã”. Seja. Acontece que Raquel gostava muito de mandrágora e pediu uma para Lia. Lia respondeu que lhe daria uma madragorinha, desde que pudesse passar mais uma ou duas noites com Jacó. Negócio fechado. E, claro, Lia engravidou. Mais dois filhos.
Nessa história, contada tanto no Gênesis como por Flávio Josefo, o que me espanta não é a capacidade parideira de Lia, a beleza de Raquel ou a astúcia de Labão. É a forma como as mulheres dispunham de Jacó.
Eram mulheres do Oriente Médio, que viviam pouco depois do rei Hamurábi, isto é, há cerca de 3.500 anos. Deviam ser submissas, pois. Não eram. Ao fim e ao cabo, elas é que tomavam as decisões sobre o que era importante.
É assim mesmo: quem resolve são os jogadores em campo, não o técnico no banco. Jonas decidiu bater o pênalti. Nem sequer olhou para a margem do gramado, onde Autuori esbravejava. Foi lá e bateu. Errou, verdade, mas foi ele quem tomou a decisão.
As mulheres em casa e os jogadores em campo, são esses que ganham o jogo. A história do mundo deve mais a resoluções pessoais dos subalternos do que se pode concluir pelo que está escrito.
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