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segunda-feira, 28 de setembro de 2009
28 de setembro de 2009 | N° 16108
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
A morte
Não é tema apaixonante para segunda-feira. Mas é verdadeiro, e mais verdadeiro é para quem progride na idade: amigos, colegas, pessoas notórias e não só, conhecidos de bom-dia e de chapéu, vizinhos – a esses todos, a morte passou de “uma absoluta impossibilidade a uma trágica realidade”. Se verazes as palavras de Goethe, a morte é algo impossível de acontecer – exceto para os outros.
Seres dotados de razão, temos capacidade de prever. Via de regra, entretanto, são poucos os que conseguem admitir a certeza do futuro inevitável. Uma vez perguntaram a Sartre se pensava na morte. A resposta do filósofo foi: “Enquanto eu existir, a morte não existe; depois que eu morrer, não terei consciência disso”. É pensamento coerente com o existencialismo, mas não é consolo.
O que mais impressiona, contudo, não é o desconforto ante a morte, mas o despreparo geral para o acontecimento. Um homem pode fazer seguro de vida, pode fazer testamento, pode comprar um jazigo perpétuo para si, pode adquirir antecipadamente sua própria incineração, mas quem vai ser incinerado e enterrado é um outro, talvez seu clone, alguém com o mesmo nome, idade, sexo e profissão.
Penetrando em terrenos metafísicos: quem sabe será apenas a alma a morrer? Sim, porque nessas horas o que interessa é o corpo. Desde que preservemos o corpo, a alma que vá para o quinto dos infernos. Afinal, a alma eu não vejo, e o corpo está aqui e agora, palpável, sangue correndo nas veias.
No fundo, somos todos um pouco de Dorian Gray, de Fausto, de Michael Jackson, um pouco desses famosos escapistas. O caso de Michael Jackson, aliás, com sua interminável e festiva morte, é um exemplo do modo atual de encarar o caso. Se as fantasias de sobrevivência eterna assumem o estilo de sua época, nossa época é a do espetáculo. E quanto mais caro, melhor.
O que sobra para os que não têm milhões de dólares?
Para ficarmos apenas no domínio material, podemos imaginar esta vida como um almoço entre amigos. As comidas são apetitosas; os vinhos, generosos; a conversa é boa e inteligente, mas há um momento em que basta.
Estamos cansados: colocamos nosso guardanapo sobre a mesa, depomos nosso cálice. Foi um belo almoço. Chega o momento da despedida. Agradece-se por tudo. Tudo está bem, tudo está certo. Nada a lamentar.
O veículo que nos espera pode não ser a sóbria, negra e mítica barca, mas terá muito de semelhante. E para repetir Paulo, o Apóstolo: “Morte, onde está tua vitória?”.
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