sábado, 19 de setembro de 2009



20 de setembro de 2009 | N° 16100
PAULO SANT’ANA


Reflexões convalescentes

O complexo de inferioridade, no homem, é derivado da sua burrice.

Mas há teses autorizadas que afirmam exatamente o inverso.

Já a megalomania é derivada da insegurança. Mas há versões psicanalíticas modernas que afirmam preferentemente o inverso.

Por exemplo, há uma teoria médica que prega a prisão de ventre ser derivada da ansiedade.

Enquanto que não conheço, no inverso, causa mais veemente da ansiedade do que a prisão de ventre.

Essas três provas que dei acima, de que as aparências enganam, confirmam inteiramente outra contradição célebre: durante séculos, os filósofos e terapeutas afirmaram que uma moça só se mantém muito tempo virgem se for pudica.

Enquanto eu afirmo taxativamente que, pelo contrário, é a virgindade que sustenta a pudicícia.

As aparências enganam, esta é a verdade que sobressai às outras verdades. Por exemplo, a mesma honestidade de um homem que não mete a mão no dinheiro alheio por medo de ser preso – e não por dignidade – corresponde à verticalidade do ser masculino que não se dedica à homossexualidade à qual tem pendor por medo da vaia social e não por apreço à hermafrodita definição fulcral de sua espécie.

Se é verdade que existem muitos motivos para eu me demitir, também o é que só não me demito por um único motivo: ninguém vai acreditar.

Atenção para meu boletim médico e existencial: não há nada como ser operado do ouvido e da parótida, aproveitando uma só sedação, ser assistido pela RBS no hospital, os cuidados todos do plano de saúde Golden Cross, os amigos na volta, os que estão longe por viagem, no entanto, demonstram desvelo dedicado por mim no telefone.

A situação médica é a seguinte, construí até uma piada sobre ela: ao que tudo indica, pelos fatos estabelecidos neste instante, ao fim de tudo, daqui a um mês, estarei surdo do ouvido operado, estarei tonto e mareado como me encontro agora, sem poder dirigir carro, mas meu ouvido estará completamente curado. Vitória!

Lauro Quadros completou ontem 70 anos. Viveu 70 anos até agora e viverá uns 90 a julgar como cuida da saúde, não bebe, não fuma, não pratica sexo a não ser nos jogos de casa.

A única vantagem que tenho sobre o Lauro é que já vivi 200 anos, tal a intensidade dos meus atos existenciais.

Meus parabéns ao Laurinho.

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