terça-feira, 29 de setembro de 2009



29 de setembro de 2009 | N° 16109
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Urbim e outros patronos

Este é um texto que talvez eu não devesse escrever, porque poderá ser lido ou como um excessivo autocentramento, ou como despeitosa desconsideração, ou ainda como uma futilidade. Mas vamos lá: o tema é a escolha do Patrono para a Feira do Livro de Porto Alegre.

Como sabem todos os que acompanham o noticiário cultural, foi eleito para este ano o grande, querido, gente boa e excelente escritor Carlos Urbim, que vai abrilhantar a festa como deve. (Segue daqui um abraço, Urbim.)

Quando a Feira completou seus primeiros 50 anos, publiquei uma história dela, 50 Anos de Feira do Livro – Vida Cultural em Porto Alegre, 1954-2004, pela L&PM, o que me habilitou a conhecer em detalhes muita coisa, incluindo o tema dos patronos. Para quem não sabe, começou a haver patrono em 1965 (o primeiro foi Alcides Maya, já então falecido), sendo a Feira de 1955.

E só 20 anos depois, em 1984, é que começaram a ser escolhidos para a honraria escritores vivos – o primeiro, por sinal, não foi um escritor, mas homem de livros, Maurício Rosenblatt. Foi apenas em 2004 que começou a atual sistemática de nomear patronáveis (eram 10 nas primeiras vezes, agora são cinco), tendo sido Donaldo Schüler o primeiro na modalidade.

Meu ponto é que, tendo também eu sido indicado entre os patronáveis neste ano (já estive nessa honrosa lista outras vezes), recebi os benefícios desse destaque, sendo cumprimentado por amigos e fornecedores, para alegria da família e celebração da vaidade. Mas também paguei o ônus de estar na lista: recebi o ódio nem sempre discreto dos inimigos e, pior que isso para mim, precisei ouvir muitos cumprimentos de consolo.

Assim que o Urbim apareceu nas manchetes com seu largo e cálido sorriso, alguns me saudavam com pena de mim, “Dessa vez não deu, mas da outra vai dar, professor”, “Que pena que não foi tu”, essas coisas. Me tratavam como um candidato à Assembleia Legislativa ou à Academia de Letras que houvesse visto naufragar sua candidatura.

A cada um deles eu começava a explicar: “Olha, não precisa ter pena não, eu estou feliz pelo Urbim, que é do ramo e merece; além do quê, eu não era propriamente candidato, não me propus ser patrono, fui convidado”.

E gostaria ainda de esclarecer que se trata de uma votação entre profissionais do ramo, vendedores e fazedores de livro, basicamente, não entre leitores e intelectuais – nada contra aqueles, é claro, e muito antes pelo contrário;

mas o caso é que quem acompanha essa história toda apenas de longe, o leitor comum de jornal ou o sujeito que vê a matéria nos telejornais, toma esse processo como o que ele não é, primeiro pressupondo candidaturas voluntárias, segundo imaginando uma eleição de mérito literário.

Termino o texto ainda sem saber bem se ele devia existir, mas com a sensação de que esse processo de escolha do patrono da Feira perdeu, para mim, o sentido de divulgação e homenagem que uma vez teve, para converter-se, junto à opinião pública, em algo que ele não é, não devia ser.

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