sábado, 26 de setembro de 2009



26 de setembro de 2009
N° 16106 - NILSON SOUZA


O hino obrigatório

Gosto do nosso hino. É verdade que a letra é meio rebuscada, com algumas frases escritas em ordem inversa e muitas palavras que a maioria dos brasileiros jamais vai compreender o que significam. Lábaro? Parece o começo de uma labareda. Garrida?

Deve ser um drible do Garrincha. Impávido? Conheci um italiano com este nome pretensioso. Mas, se tem Mássimo, por que não pode ter Impávido? Penhor, plácidas, fúlgidas, florão... A lista é grande. Daria um Dicionário de Termos Estrambóticos, se a gente soubesse direito o que significa estrambótico.

Também não me entusiasmo muito com alguns ufanismos, mas, pelo menos, não é uma letra guerreira, agressiva, com apelos belicistas. Tem lá uma ou outra bravatinha, diz que um filho desta pátria amada, idolatrada, não foge à luta, nem teme a própria morte.

Vá lá que seja assim. Na hora de cantar, com o peito inflado de orgulho, a gente pensa isso mesmo. Também não vejo mal em acharmos nosso país gigante pela própria natureza, belo, forte, colosso, com um futuro cheio de grandeza. Todos temos direito a esse sonho intenso.

Descontados os preciosismos, a letra é bonita, faz sentido, descreve muitas das virtudes que nosso país realmente tem e algumas aspirações que um dia haveremos mesmo de alcançar. A música é belíssima.

Já foi reconhecida como uma das mais bonitas melodias entre hinos de todo o mundo, embora alguns críticos mais intransigentes insistam em que se trata de plágio da sonata de um compositor italiano da época. Pode até ser, mas ficou uma melodia agradável, repleta de sonoridade.

É um prazer ouvir nosso hino. E, se é um prazer, não deveria ser uma obrigação. Em vez de fazer uma lei para torná-lo obrigatório nas escolas, nossas autoridades deveriam estimular professores e alunos a ouvir, trabalhar e cantar o Hino Nacional.

Quem sabe um concurso com prêmios para a melhor interpretação da banda ou do coral da escola? Quem sabe um Soletrando, do Luciano Huck, só com palavras extraídas do hino?

Ou, ainda, análises sintáticas, redações a partir de frases escritas por Joaquim Osório Duque Estrada, seleção de proparoxítonas, interpretação de texto? Tem tanta coisa para fazer em torno do hino sem desmerecê-lo nem deturpá-lo.

Há muitas maneiras de plantá-lo no coração e na mente das crianças. Basta convidá-las para uma audiência sob o sol da liberdade, de preferência ao som do mar e à luz do céu profundo, e cobri-las de amor e de esperança. Como uma mãe gentil.

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