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quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Editorial da Folha
Desafios de 2009
Novos focos de instabilidade e de poder apontam necessidade de fortalecer mecanismos internacionais de decisão
O PRÓXIMO capítulo "será fascinante", diz o jornalista Michael Skapinker, do "Financial Times", comentando as perspectivas globais para 2009. E não se arrisca a maiores previsões, num bem-humorado artigo que a Folha publicou.
"As taxas de juros dos EUA caindo a zero. Boa parte do sistema bancário estatizado. Um presidente carismático na Casa Branca. O que acontece a seguir? Não sei", provoca o articulista, sem dúvida escaldado pela quantidade dos imprevistos registrados ao longo deste ano.
Todavia, se parece mais difícil do que nunca antecipar o futuro, sempre é possível identificar as variáveis e as tendências que se firmam no presente, e o ano de 2008 trouxe evidências quanto a mudanças e desafios que, além do puro aspecto econômico, se impõem no cenário global.
Vários fatos apontam para a crise do atual sistema de poder nas relações internacionais. Embora os EUA concentrem força militar incomparável, entram em crise teorias e práticas fundadas em sua capacidade unilateral de intervenção sobre o planeta.
Novos focos de instabilidade se somam ao frustrado intento americano de impor militarmente um regime pró-ocidental no Iraque, deixando claros os limites de expedições do tipo.
Pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, a Rússia afirmou militarmente a disposição de preservar sua esfera de influência. Em agosto deste ano, sua incursão esmagadora no território georgiano não provocou, nos países do Ocidente, mais do que condenações retóricas.
Irã, Índia, Paquistão e China, com tudo o que os diferencia em termos ideológicos e políticos, mostram a característica comum de emergirem como polos de poder e fatores de desequilíbrio num mundo que uma só hiperpotência, por mais forças de que disponha, não se vê mais em condições de controlar.
Eis uma realidade que se associa à violência da crise econômica e aos permanentes impasses nas discussões sobre o aquecimento global para indicar a importância de um fortalecimento dos organismos internacionais.
O peso conjunto de países como China, Rússia, Índia e Brasil começa a mostrar-se relevante para o futuro da economia mundial -ainda que não se conheça, por enquanto, o real impacto da crise sobre os países emergentes.
Seja como for, não pertence ao ramo da futurologia a constatação de que se acentua, como nunca, a interdependência entre os países e diminuiu a assimetria nas suas relações de poder.
Se, a partir dessa realidade, irão fortalecer-se mecanismos mais amplos de diálogo e decisão é uma questão a que só o futuro responderá. Mas o futuro, ainda que insondável, também é, em parte, resultado da vontade humana. Que, em 2009, ao menos não desesperemos dela.
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