sábado, 6 de setembro de 2008



07 de setembro de 2008
N° 15719 - PAULO SANT’ANA


Notícia escandalosa

OJornal Nacional divulgou na quarta-feira uma notícia surpreendente: os governos federal, estaduais e municipais do Brasil gastam por ano em saúde R$ 66 bilhões.

No entanto, os brasileiros em geral gastam, de seus próprios bolsos, também em um ano, R$ 103 bilhões com saúde, compreendendo remédios e tratamento.

Ou seja, os brasileiros despendem quase o dobro com saúde do que gastam os governos.

Sabendo-se que pela Constituição de 1988 todos os brasileiros têm direito à assistência médica e hospitalar gratuita, até mesmo os que não descontam para a Previdência, essa notícia se reveste de um escândalo.

Se é um direito constitucional o tratamento gratuito da saúde, o lícito seria esperar que todos se jogassem para ser atendidos pelo SUS.

Ai de quem assim o fizer, corre a certeza de que será jogado nas filas intermináveis e algumas com prazo de anos para ser atendido, além do risco de vir a morrer ou ficar mutilado por falta de atendimento.

Eu fico desconfiando seriamente de que o establishment nacional, isto é, o estamento de poder no Brasil, torna o SUS precário intencionalmente.

Com isso, as pessoas de classe média se atemorizam com o atendimento gratuito de saúde e ingressam nos planos de saúde, desafogando os recursos oficiais e os cofres do governo, como atestou essa bombástica notícia de que os indivíduos brasileiros gastam mais com saúde que os governos.

Repito: um escândalo.

Eu já tinha desconfiado disso. Porque é impressionante o número de pessoas que vejo serem atendidas por clínicas médicas através de convênios (planos de saúde), apesar das parcas remunerações que os médicos recebem desses convênios.

Consultórios médicos estão lotados de pessoas que têm planos de saúde. Em Porto Alegre, pelo que tenho notado, as consultas por convênios superam de goleada as consultas do SUS.

E com as internações vem acontecendo a mesma coisa.

Por sinal, com a educação ocorre o mesmo. As vagas preenchidas nas escolas privadas suplantam também de goleada as das escolas públicas, haja vista o grande número de universidades privadas que há no Rio Grande do Sul em relação às escolas públicas de nível superior.

Ou seja, com a educação ocorre o mesmo que com a saúde, por insipiência das escolas públicas, as pessoas fogem para as escolas privadas, embora haja o direito constitucional que garante aos brasileiros ensino gratuito.

Que ensino gratuito, qual nada!

Ainda bem que o governo federal determinou na última semana, como resgate dessa falha histórica, a criação de mais 44 mil vagas discentes e 11 mil docentes nas universidades públicas federais.

Que aconteceu então no aspecto da saúde? Os hospitais, inclusive alguns públicos e os filantrópicos, sufocados pela má, péssima remuneração do SUS, tiveram de aparelhar-se para atender os pacientes de convênios e particulares.

Se a Santa Casa porto-alegrense não tivesse feito isso, teria soçobrado. O próprio Hospital das Clínicas se vale dos convênios para aliviar seu orçamento.

Nos hospitais privados, então, nem se fala. O complexo do Mãe de Deus e o do Hospital São Lucas estão prestando grandes serviços à população no que se refere ao atendimento de pacientes que têm convênios.

O mesmo com o Moinhos de Vento.

Criou-se entre a população a convicção, fundada e definitiva, de que a maior bênção protetiva que pode ter um cidadão é possuir um plano de saúde.

E quem não tem plano de saúde está condenado à aflição ou à morte.

Embora os grandes serviços que consegue ainda prestar o SUS com esta miséria de recursos, recebe a metade do que gastam de seus bolsos os brasileiros. Uma notícia espantosa e deplorável que surge agora.

Um libelo contra os governos.

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