Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 6 de setembro de 2008
07 de setembro de 2008
N° 15719 - DAVID COIMBRA
O bom marido não volta mais cedo
Se você é marido deve saber que o bom marido não volta mais cedo para casa. O bom marido compreende as possíveis conseqüências desse gesto aparentemente singelo.
Você, o bom marido, entende que pode muito bem flagrar um sujeito esgueirando-se à socapa do seu apartamento e, ao entrar no quarto, no recôndito sagrado da intimidade conjugal, pode deparar com sua esposa nua e arquejante sobre a cama desfeita, os lençóis ainda mornos de amor.
Sim, isso pode acontecer, se você, o bom marido, cometer a imprudência de voltar mais cedo para casa.
Foi o que se deu com o italiano Giuseppe Pistone. Nos anos 20, ele e a mulher, Maria Féa, atravessaram o Atlântico desde a Itália para fazer a América em São Paulo. Maria Féa era loirinha, pequena, frágil e atraente como uma boneca de porcelana.
Uma manhã, Pistone saiu mais cedo do trabalho e decidiu antecipar o almoço. Ocorreu o descrito acima. Pistone viu um sujeito vestido de terno branco, carregando na mão um chapéu tipo palheta, caminhando apressado nas cercanias da sua casa.
Ao entrar, encontrou Maria Féa seminua, deitada na cama, lânguida como uma gueparda ao meio-dia. Entendeu tudo. Pulou sobre ela e a estrangulou. Mais tarde, contou como o fez:
– Louco de espanto e dor, porque não a apertei mais do que um só minuto, deitei minha Mariuccia sobre o leito, cobrindo-a de beijos. Passei toda a noite com sua loira cabecinha entre meus braços.
Depois, Pistone saiu, comprou uma mala de bom tamanho, acomodou o cadáver nela, fechou-a e a remeteu para o Porto de Santos, endereçada à Itália.
Este foi o “Crime da Mala”, um dos mais famosos assassinatos da crônica policial brasileira. Maria Féa jaz enterrada no Cemitério da Filosofia, em Santos.
Até hoje seu túmulo é visitado por pessoas que acreditam ter ela se transformado em santa milagreira. Pistone terminou preso, julgado e condenado a 31 anos de reclusão. Cumpriu 16, saiu por um decreto presidencial em 1944 e cinco anos depois casou-se com uma faxineira que conheceu na prisão.
Morreu em 1958, de problemas cardíacos. Quando os parentes foram recolher seus pertences, tiveram uma surpresa: dentro do travesseiro sobre o qual ele repousava a cabeça todas as noites havia um volume. Abriram-no. E descobriram a foto do casamento de Pistone com Maria Féa.
Ia comparar a inconveniência de Pistone ao voltar para casa em horário não apropriado com a ousadia do Inter em testar a honradez dos seus jogadores. O Inter os fez cumprir os contratos que assinaram!
Muito arrojo. Como o bom marido, o clube de futebol brasileiro deve ter bem consciente sua chance de desilusão. O clube brasileiro tem de saber que o jogador brasileiro só cumpre um contrato quando o contrato o favorece.
Ia fazer essa comparação. Mas o desfecho do Crime da Mala é mais forte: o marido traído, o assassino, suspirou até o fim da vida pela traidora que vitimou.
É o clube que aceita o trânsfuga de volta. É a torcida que, em troca de um gol, aplaude o jogador contrafeito. E abraça o infiel.
Marmanjos de calças curtas
Archymedes Fortini era argelino. Mas se consagrou como jornalista em Porto Alegre, onde trabalhou durante bem mais de meio século. Avistou a cidade pela primeira vez em dezembro de 1899, chegando pelo vapor Íris através das águas então cristalinas do Guaíba.
Tenho um pequeno livro que Archymedes escreveu em 1966 relembrando sua chegada à Capital. Contou que havia trapiches na Rua das Flores, atual Siqueira Campos, e desses trapiches partiam botes que transportavam os passageiros dos vapores para terra firme.
Os botes eram batizados com nomes simpáticos, como “Seja Bem-Vindo”, “Mimoso” e “Preferido”. Não sei se queria andar no bote Mimoso.
Archymedes tinha 13 anos de idade quando singrou o Guaíba pela primeira vez. Três anos depois, aos 16, viu o Grêmio nascer e, aos 22, o Inter. Archymedes Fortini foi o primeiro jornalista a escrever sobre futebol em Porto Alegre.
Neste mesmo livro, descreveu o Grêmio de... 1907! Os jogadores treinavam num terreno baldio do bairro São João, local ermo e afastado. “Por que se realizavam ali os ensaios de futebol?”, pergunta-se Archymedes Fortini no livro, e ele mesmo responde:
“Porque seus praticantes não desejavam ouvir frases como estas: ‘Vejam só, marmanjos de calças curtas, correndo atrás de uma bola!’ e coisas assim, ditas em tom de blague por transeuntes, espectadores involuntários das partidas. A cada momento, outras chacotas eram dirigidas aos atletas”.
Os fundadores do Grêmio, quase todos, eram alfaiates. Oswaldo Rolla, o Foguinho, também trabalhou como alfaiate, só que foi jogar no clube um pouco depois, nos anos 20.
Archymedes Fortini relatou que os porto-alegrenses estranhavam que homens dedicados a uma atividade tão sedentária praticassem aquele esporte “com características de violência”.
Até 1907, quatro anos depois da sua fundação, o Grêmio havia disputado oito partidas, somando sete vitórias e uma derrota. Duas partidas por ano. Naquela época, os jogadores não podiam reclamar de tempo para treinamento.
Archymedes Fortini também lembrou de fatos a respeito do Inter dos primeiros tempos. E destacou um feito do clube: o Inter foi o primeiro time da cidade a usar redes nas goleiras.
Façanhuda desde as origens a Dupla Gre-Nal. Que ninguém duvide de que o Grêmio possa ser campeão.
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