terça-feira, 2 de setembro de 2008



02 de setembro de 2008
N° 15714 - MOACYR SCLIAR


Um pioneiro da luta contra a fome

Na sexta-feira, muito provavelmente aparecerá na mídia um nome que o Brasil não deve esquecer: Josué de Castro.

O 5 de setembro marca o centenário de nascimento desse médico que se tornou um verdadeiro ícone em nosso país, ao lado de um Gilberto Freyre, de um Sérgio Buarque de Holanda e de um Caio Prado Júnior, grandes intérpretes do Brasil.

O tema que mobilizou Josué desde a juventude foi a fome, coisa que ele, de família modesta e nascido no Recife dos mocambos e mangues, conhecia bem. Foi este o tema de seu trabalho de conclusão de curso na Faculdade de Medicina. Não era apenas resultado de um interesse científico, era uma verdadeira paixão, que lhe daria projeção nacional e internacional.

Formado, Josué de Castro tornou-se professor universitário e pesquisador, e, em 1946, publicou a obra que o consagraria, Geografia da Fome, traduzida em 27 idiomas.

Josué de Castro dividia o Brasil em cinco grandes áreas: Amazônia, Nordeste Açucareiro, Sertão Nordestino, Centro-Oeste e Extremo Sul, as três primeiras sendo enormes regiões de fome.

E fome, para Josué de Castro, não era apenas um problema biológico, era o inevitável resultado da conjuntura social, política, cultural. Em O Livro Negro da Fome (1957), mostrou como o colonialismo, a monocultura e o subdesenvolvimento resultavam em carência alimentar.

Mas não era um fanático visionário, tinha os pés na realidade: defendia uma reforma agrária que não apenas distribuísse terra, mas que proporcionasse à agricultura familiar assistência técnica, créditos e facilidade de comercialização dos produtos.

Seus trabalhos guindaram-no a vários importantes cargos no governo federal e em organismos internacionais, inclusive a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Exerceu, por duas vezes, o mandato de deputado federal por Pernambuco, mas, com o golpe de 1964, teve os direitos políticos cassados. Exilado em Paris, sem poder voltar ao Brasil, acabou morrendo – de tristeza, segundo amigos.

Aparentemente as idéias de Josué de Castro foram ultrapassadas pelo tempo. A geografia já não condiciona de forma tão estrita o consumo alimentar, dado o crescente e globalizado comércio de produtos alimentícios: há McDonald’s e Coca-Cola em toda parte.

O programa Fome Zero, lançado no início do governo Lula, sofreu, do ponto de vista da opinião pública, um inesperado golpe quando levantamento do IBGE mostrou que, no Brasil, a obesidade é mais comum que a desnutrição. Mas não é bem assim. O problema da fome ronda o nosso mundo como um espectro.

É o que se constata através do recente, e dramático, aumento do preço dos alimentos, do fracasso da rodada de Doha e sobretudo do protecionismo agrícola dos países ricos, que em 2007 deram US$ 320 bilhões a seus agricultores para evitar que bloqueassem o centro das cidades com seus tratores.

A ajuda aos países mais pobres representa pífios 0,7% do PNB dos ricos e só faz diminuir.

Por tudo isso é bom não esquecer o grande Josué de Castro. Ele é mais atual do que parece.

Através da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho mais de 170 projetos sociais estão sendo ajudados, incluindo, entre outros, o Instituto da Criança com Diabetes, o Instituto Pestalozzi e o Asilo Padre Cacique.

Para apoiar esta iniciativa é só digitar www.portalsocial.org.br e contribuir com qualquer quantia.

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