segunda-feira, 1 de setembro de 2008



01 de setembro de 2008
N° 15713 - LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Palavras (final)

Ruínas – na América do Sul, são um nonsense em meio à adolescência do Novo Mundo.

São Miguel Arcanjo fica na América do Sul. São ruínas de uma igreja jesuítica com apenas 260 anos. Derivaram de um devaneio religioso e pio. O que devastou São Miguel não foi o tempo, mas a guerra guaranítica, a cobiça; por fim, a amargura dos padres.

A maior devastação foi em suas almas.

Perdas – Tudo o que não se acaba, tudo o que abandonamos, tudo o que se perde: tudo se transforma em ruínas que apenas aguardam o suceder do tempo para desaparecerem no pó das eras.

Guaíba – Às margens de nosso grande rio há pedras que emergem das águas. São negras, antiqüíssimas, cobertas de musgo. Vistas da margem, são ruínas dos castelos de uma Idade Média que não tivemos.

Ali estão, à espera que o tempo venha dar-lhes o som e o colorido das batalhas entre senhores feudais.

O parque – No parque de minha cidade há ruínas meticulosamente construídas. São ornamentais, pitorescas, temerárias. Ali, durante a noite, os pedreiros-espectros do passado, às escondidas dos olhos mortais, completam-nas, tijolo a tijolo. O nascer do sol faz renascer as ruínas.

Ternura – Balzac, em O Médico do Interior, romance de 1833: Era uma espécie de ruína humana, à qual não faltava nenhuma das características que tornam as ruínas tão tocantes.

[C’était une sorte de ruine humaine à laquelle ne manquait aucun des caractères qui rendent les ruines si touchantes].

Balzac via ternura nas ruínas. Ruínas, na verdade, são o que vêem nossos olhos. Um cão pode ser uma ruína, um pensamento também. Uma pessoa também.

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