segunda-feira, 1 de setembro de 2008



COOPERAÇÃO AUTODESTRUTIVA

Cada qual com as suas preferências. Há quem goste de picanha mal passada. Eu detesto carne crua. Tem quem adore o frio. Eu pago para sentir calor.

Tem gente que daria mundos e fundos para ouvir Madonna no Brasil. Eu, embora tenha muita simpatia por essa 'tia' de faca na bota, teria me sacrificado para estar no show de Caetano Veloso e Roberto Carlos.

Gosto muito de Tom Jobim. Mas se eles tivessem cantado o próprio repertório, aí seria imperdível. Sou brega. Daqueles que sentem saudades do passado com direito a fundo musical e uísque com guaraná.

Eu tenho grande interesse pelas bactérias. Mas quase nenhum pelos três poderes. O Judiciário me deixa enjoado. O Executivo me causa vertigens. O Legislativo me faz pensar no declínio da ética no mundo contemporâneo.

Que posso fazer? Sou um niilista. Quer dizer, um anarquista cansado de guerra. O poder sempre me repugna. As bactérias formam comunidades, trabalham pelo interesse geral e são capazes de dar a vida pelo bem comum.

Uma pesquisa científica recente provou, até o aparecimento da seguinte, que as bactérias são capazes de suicidar-se para ajudar a colônia a atingir os seus fins infecciosos. É o que se chama poeticamente de 'cooperação audestrutiva' ou máfia invisível e quadrilha ética.

Esse método exige, obviamente, grande capacidade de sacrifício, uma visão de mundo superior, objetivos claros, senso de coletividade e muito altruísmo. Algo que está fora das cogitações da maioria dos políticos.

Raramente se ouve falar de um deputado, de um senador ou mesmo de um vereador que tenha cometido suicídio pelo bem da sociedade. Não estou falando de se dar um tiro no coração, como fez Getúlio Vargas, mas de renúncia.

Quando um deles pede demissão, é para poder voltar mais forte depois de algum tempo. Jamais uma bactéria pensou em propor uma cota de empregos públicos para os seus parentes.

Nem em sonhos. Muito menos como estratégia de disseminação do mal. Nem sequer sob o efeito devastador de antibióticos. Os três poderes formam colônias que praticam em geral a cooperação destrutiva. Sugam tudo e todos que encontram pela frente.

Essas colônias são extremamente organizadas e funcionam como um mal necessário. Sem elas, o tecido social é devorado por uma metástase conhecida como ditadura.

Com elas, se o organismo não tiver fortes mecanismos de defesa, o parasitismo pode levar a uma morte lenta e rendosa.

Ao contrário das bactérias, os membros dos três poderes não praticam jamais a 'cooperação audestrutiva', embora vivam cooperando em benefício próprio.

O equivalente dessa 'cooperação autodestrutiva' nas colônias dos três poderes é um fenômeno resistente a todos os medicamentos até hoje descobertos rotulado de nepotismo.

Volta e meia a sociedade inventa uma nova forma de resistência ao nepotismo. Rapidamente, as colônias interessadas assimilam o corpo estranho e tornam-se refratárias aos seus efeitos.

Um senador teria declarado, há poucos dias, que se não dá para empregar parentes, não vale a pena se candidatar. Como se vê, as bactérias se sacrificam pela colônia como um todo.

Alguns políticos estão dispostos a dar o sangue pela comunidade, desde que seja a comunidade do seu próprio sangue.

Esse pessoal tem qualidades de bactéria. A família acima de tudo. Gilmar Mendes, presidente do STF, é ainda mais magnânimo. Quer aumento para os colegas: R$ 23 mil é pouco.

juremir@correiodopovo.com.br

Ótima segunda-feira, ótima semana e um excelente setembro para todos nós

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