sexta-feira, 2 de maio de 2008


Eliane Cantanhede - Folha de S. Paulo - 2/5/2008

Escandalização: do tudo ao nada

Quando saiu a pesquisa CNT-Sensus com Lula nas alturas e o terceiro mandato aceito por 50%, um velho amigo, petista e lulista de quatro costados, comentou: "Ih! Pronto! O Lula vai ficar com o ego nas nuvens e desandar a falar besteira". Não deu outra.

Alguém aí pode explicar por que o presidente da República tinha de fazer apaixonada defesa do governador do Ceará, Cid Gomes, que gastou uma bolada pública para passear com a família e com amigos na Europa? Cá pra nós, não dá.

Na versão de Lula, "um avião alugado não é alugado por uma pessoa", ou seja, já que alugou, qual o problema de levar a sogra? Mas a questão não é essa. A sogra entra na história de gaiata, um símbolo.

O que importa é que o Estado gastou R$ 388 mil só com avião numa viagem para a Europa com assessores, suas mulheres e até a sogra, em pleno Carnaval e com agenda fajuta. Gomes pode até ser bom cara, mas é ou não farra com dinheiro público?

Na oposição, Lula e o PT foram decisivos para estabelecer parâmetros morais a serem respeitados pelas autoridades, fiscalizados pela imprensa e aprovados ou não pela sociedade.

Ao chegarem ao poder, jogaram tudo para o alto. Não bastassem mensalão, cuecão, aloprados, dossiês, quebra de sigilo de caseiro e contratos com a Telemar, lá vem Lula defender o indefensável, tratando meio milhão de reais dos cearenses como uma bobagem. Imagina se o PT fosse oposição, e o governador, situação?!

Todo-poderoso, Lula previu um "mandato excepcional" de Collor, gargalhou com ACM, defende Renan e Severino, segue as luzes de Jader.

O que antes era escândalo virou provocação tucana, perseguição da imprensa, bobagem. Uma "escandalização do nada", como diria o chefão da AGU, Jorge Hage.

Saudade do PT na oposição e preocupação com um presidente tão popular quanto maleável ao tratar de moralidade pública. Não é responsável, não é educativo.

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