
13 de maio de 2008
N° 15600 - Luís Augusto Fischer
68 em 77
Por quanto tempo o ano de 1968 permanecerá sendo um marco cultural e político? Enquanto viverem seus protagonistas, é certo; mas é possível que vá mais adiante, entrando para o rol das datas-marco, que fixam a história, dando nitidez de leitura para os pósteros na mesma medida em que barateiam o processo histórico.
Para não ir muito longe no tempo, bastaria lembrar que 1888, justamente um 13 de maio, entrou para a história como a data maiúscula da Abolição, o que faz grande sentido;
mas essa nitidez impede de lembrar, por exemplo, o 28 de setembro de 1871, data da Lei do Ventre Livre, que parece ter despertado mais debate, controvérsia e luta social do que a Lei Áurea, por sinal assinada por Isabel porque o pai, Pedro II, queria esquentar a manutenção da monarquia no Brasil, com ela de imperatriz.
Neste 2008 são celebrados os 40 anos redondos do Maio de 68, e quase basta dizer essas palavras e números para significar luta pela liberdade, confronto com o conservadorismo, reforma universitária, tudo isso protagonizado pela juventude, setor da sociedade até então inexistente, porque era apenas um passo entre a infância e a idade adulta, mas que naquele momento ganhou nome, prestígio e destino particulares.
Eram os filhos do pós-Guerra, os baby-boomers norte-americanos, que tinham encontrado no rocknroll a sua linguagem e no corpo sua matéria. Por isso não era para confiar em ninguém com mais de 30 anos, como ameaçava uma canção da época.
No Brasil isso tudo ganhou forma especial pela força da canção, praticada nos festivais, veiculada pela moderníssima televisão e embalada pela força do combate à ditadura instalada em 64 (que recrudesceria ao fim do ano de 68, com o AI5).
A geração nascida entre 1940 e 1945 é qualquer coisa: Chico, Caetano, Gil, Paulinho da Viola, Rita Lee, Elis, Tim Maia, Roberto Carlos e uma penca de gente que, oriunda das classes médias, de vez em quando cultas, soube dar voz a um sentimento espalhado pelo Ocidente todo. E que voz: capaz de soar até hoje (e pelo mesmo tempo que durar o marco 68?).
De minha parte, nascido em 58, conheci o Maio de 68 em Agosto de 77, quando minha geração universitária fez as primeiras passeatas fortes contra a ditadura, a mesma, mas já declinante.
Os ingredientes políticos e culturais eram quase iguais, mas já contávamos com o benefício da experiência alheia: já havia os mártires de 64 e 68, os cassados, os torturados, os humilhados, que davam um sinal, chamando-nos para a rua, para a frente, para sempre.
Até cantamos de novo a proibida Caminhando, mas já cantávamos "Agora não pergunta mais aonde vai a estrada, agora não espero mais aquela madrugada: vai ser, vai ter que ser faca amolada".
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