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segunda-feira, 19 de maio de 2008
19 de maio de 2008
N° 15606 - Paulo Sant'ana
Pablo, o Leigo
Volto ao assunto porque ele está apavorando as pessoas que vivem nas capitais brasileiras e começou a aturdir os espíritos dos porto-alegrenses.
Acontece que, absolutamente leigo no assunto, na condição apenas de cliente do trânsito porto-alegrense, atrevi-me na semana passada a dar minha sugestão para a solução para evitar o colapso que se aproxima em nossas ruas e avenidas, em face do engarrafamento que já é grave e ameaça ser fatal.
E então, Pablo, o Leigo, sentenciou nesta coluna: a solução será distribuir entre as 24 horas do dia o funcionamento dos bancos, serviços, repartições públicas, evitando assim o estrangulamento da saída das pessoas para a rua: todos ficam com seus carros fora das suas garagens pelo dia, em face de que têm de cumprir seus compromissos somente das 8h às 18h.
Segundo minha intuição, o horário entre a noite e a madrugada terá de ser preenchido com atividades idênticas em intensidade e duração com o horário do dia, tornando a cidade febril durante as 24 horas e dividindo o fluxo de carros por todas as 24 horas, acabando ou diminuindo o engarrafamento, que se verifica somente dentro das 10 horas de funcionamento de todas as atividades em que funcionam todos os serviços.
Para minha surpresa, dias depois de eu ter escrito isso, Zero Hora apresentou ontem em duas páginas as conclusões de três estudiosos e autoridades do trânsito, entre as quais pontifica a sugestão principal: reescalonamento de horários de funcionamento do comércio, da indústria, das repartições públicas, das escolas e de todos os serviços, entre outros setores, fato que já vem se verificando em algumas grandes cidades dos EUA, entre elas Washington, com ótimos resultados.
Palavra de honra que Pablo, o Leigo, nunca tinha lido sobre isso nem visto essa solução enfocada pela televisão.
Essa solução me ocorreu quando vi as garagens do centro de Porto Alegre vazias durante a noite e superlotadas durante o dia. Considerei as garagens ociosas durante a noite, o que achei ser um grande desperdício.
Depois, constatei que as pessoas que trabalham durante a noite e a madrugada não tinham dificuldades para sair de casa de carro ou de ônibus (superlotação).
Pensei comigo: algo está errado. Por que as pessoas que trabalham durante o dia se estrebucham nos ônibus lotados e à noite há uma paz no transporte coletivo?
Por que quem trabalha durante o dia ou usa os serviços gerais mofa nos engarrafamentos e não encontra vagas para estacionar nos meios-fios ou até nas garagens?
Pensei então comigo que algo estava errado na organização da cidade. Que todos se atiravam para um horário restrito e concentrado e, fora dele, a metrópole parecia ser uma cidade do Interior, pacífica e tranqüila no trânsito e no transporte coletivo, com lugar manso para as pessoas viajarem nos ônibus, transitarem com seus carros e estacioná-los.
E meti fichas na minha sugestão, nesta coluna. Ontem, dias depois, vejo em ZH a opinião do engenheiro especialista em logística do trânsito Paulo Resende, atual estudioso dos engarrafamentos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, para onde prevê colapso em breve, junto com o professor João Fortini Albano, do Laboratório de Sistemas de Transportes da UFRGS, e do secretário municipal de Mobilidade Urbana, Luiz Afonso Senna, os três concluindo o mesmo que Pablo, o Leigo, dias antes concluíra.
Confesso que fiquei orgulhoso. Porque sempre achei que as melhores soluções para todos os problemas são oriundas da idéia, do raciocínio, da dedução.
Essa solução de dividir os horários de funcionamento da cidade é tida como a alternativa mais barata e de aplicação rápida, sem depender de verbas, licitações e obras, para a atenuação dos engarrafamentos.
Não custa nada, nem um tostão.
Nem sei como Pablo, o Leigo, teve essa inspiração.
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