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terça-feira, 27 de maio de 2008
Educação e gasto público, gargalos do Brasil
Liana Melo e Luciana Rodrigues - Globo
27/5/2008
FÓRUM NACIONAL - Em evento no Rio, economista critica baixo nível de investimentos e vencedor de Nobel destaca importância de dinamismo
Mesmo considerando que o país está "economicamente e politicamente pronto", o professor Albert Fishlow, da Universidade de Columbia, em Nova York, enumerou os gargalos da economia brasileira, ao encerrar, ontem, o primeiro dia do seminário "200 Anos de Independência Econômica e 20 Anos de Fórum Nacional - Sob o Signo da Incerteza". Educação, baixo nível de investimentos e elevados gastos públicos são os entraves à economia brasileira, na sua visão.
Para Fishlow, que já morou no Brasil nos anos 70 e hoje é diretor do Centro de Estudos Brasileiros de Columbia, o maior gargalo do país é a educação.
Ao investir mais na universidade pública do que no ensino básico, o país estaria promovendo uma transferência de renda "dos pobres para os ricos", disse Fishlow.
Ele também pondera que o Bolsa Família, mesmo sendo um programa de transferência de renda condicionado ao desempenho escolar, não é um modelo capaz de promover "mudanças estruturais". É preciso, para esse fim, alterar o sistema educacional, afirmou.
- A lição dada por países como Índia e China mostra que o Brasil está ficando para trás na educação.
Investimento é insuficiente para país crescer 5% ao ano
Mesmo considerando um avanço o governo ter como meta alcançar uma taxa de investimento de 21% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto dos bens e serviços produzidos no país), Fishlow acredita que esse percentual não é suficiente para garantir um crescimento anual superior a 5% ao ano. No ano passado, a taxa de investimento no Brasil foi de 17,6%.
- Na China, a taxa de investimento é superior a 38%.
O terceiro gargalo apontado por Fishlow é a "magnitude do gasto público no Brasil", que é superior a de países escandinavos. Apesar das críticas, Fishlow está convencido de que o país hoje entrou na rota dos investimentos externos.
Ex-ministro do Planejamento e organizador do Fórum Nacional há 20 anos, João Paulo dos Reis Velloso destacou que a recente obtenção de grau de investimento pelo Brasil não é suficiente para garantir prosperidade.
E, na sua opinião, a abundância de recursos naturais do país, muito citada pelos palestrantes do fórum, pode ser "um trunfo ou uma maldição", dependendo da estratégia a ser adotada.
Phelps: país deve depender menos de produtos primários
O economista americano Edmund Phelps, Prêmio Nobel de 2006, lembrou que o momento atual é de grandes oportunidades para o Brasil, já que os preços dos produtos primários estão disparando. Mas isso deveria servir de ponte para o país desenvolver uma economia mais dinâmica:
- Espero que o Brasil desenvolva o dinamismo econômico para que não seja tão dependente dos preços de produtos primários.
Em sua palestra, Phelps afirmou que uma sociedade justa requer uma economia dinâmica e um grande nível de inclusão social. Para ele, o que mede o dinamismo não é o crescimento do PIB, mas sim os avanços de produtividade, que permitem a inovação nas empresas e um maior nível de satisfação dos trabalhadores.
Ele criticou países que concedem direitos excessivos em bem-estar social, mas afirmou que este não é o caso do Bolsa Família no Brasil.
- O Bolsa Família é um programa fundamental para criar o potencial para o dinamismo econômico, que requer educação. É um grande passo na direção correta.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, também destacou o bom momento da economia brasileira:
- Hoje, a incerteza cedeu lugar à possibilidade de olhar para o futuro e planejar a longo prazo, o que, num passado recente, não era possível.
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