segunda-feira, 26 de maio de 2008


VALDO CRUZ

Bomba-relógio

BRASÍLIA - Lula precisa desarmar uma bomba-relógio que está sendo colocada no seu colo. Se não elevar o superávit primário e reduzir os gastos públicos, vai deixar o Banco Central sozinho no combate à inflação e a explosão já estará programada, sem volta.
Afinal, o BC, não tenham dúvidas, vai cumprir sua missão institucional, de preservar o valor da moeda brasileira, segurando a inflação o mais perto possível do centro da meta, de 4,5% ao ano.

O resultado lá na frente será uma inflação domada à custa de uma política monetária austera, com um ciclo de alta dos juros bem mais longo do que o imaginado pelo próprio Banco Central.

Por quê? Porque o cenário da inflação piorou. Depois do choque dos alimentos, veio o dos preços dos minerais. Além disso, o cenário internacional também ficou pior. E deve se agravar ainda mais. O ajuste na economia norte-americana deve se aprofundar no final do ano, depois das eleições.

E, junto com a inflação baixa, que será entregue pelo BC, virão também um crescimento do PIB menor, receita em queda e despesas lá em cima. Uma conjunção totalmente desfavorável para nossa economia. Culpa do BC? Não, mas de uma política econômica bastante desequilibrada.

É mais ou menos esse o alerta que alguns economistas têm feito ao presidente Lula nos últimos dias. Alerta que levou o petista a adiar o anúncio do Fundo Soberano. Ele ficou de refletir e discutir melhor o tema, do qual não desistiu, com sua equipe econômica nesta semana.

Os interlocutores do petista lembraram um detalhe que pode pesar na hora da decisão. Em 2008, a crise não provocará grandes estragos no crescimento do país. Ele já está contratado e ficará perto de 5%.

A conta será cobrada no próximo ano. É lá que a bomba-relógio pode explodir. Aí Lula corre o risco de, se não fizer o ajuste agora, ter dois últimos anos ruins de mandato. Adeus eleição do sucessor.

Nenhum comentário: