sábado, 31 de maio de 2008



31 de maio de 2008
N° 15618 - A Cena Médica - Moacyr Scliar


Agressividade: isto é bom ou é ruim?

Marketing agressivo é uma expressão cada vez mais usada no mundo dos negócios. E não é uma expressão ofensiva ou depreciativa, pelo contrário.

Uma definição diz que marketing agressivo caracteriza-se por "determinação, energia e espírito de iniciativa", coisas que todo mundo gostaria de ter. Fundos de investimento agressivos já entusiasmam menos, porque são arriscados e voláteis, mas, para quem gosta de emoções fortes na Bolsa de Valores, representam uma tentação constante.

Esses dois exemplos servem para mostrar que a agressividade pode ser vista de diferentes maneiras. Canais de TV como o Discovery costumam exibir certos documentários (em geral, gravados na África) mostrando um leão perseguindo, matando e devorando uma gazela, ou um crocodilo atacando uma ave qualquer.

Muita gente fica impressionada e até mesmo horrorizada diante de tais cenas, consideradas cruéis - mas, do ponto de vista do leão ou do crocodilo, é mesmo crueldade, ou os bichos estão apenas fazendo aquilo que devem fazer para sobreviver, aquilo que está programado em seu genoma?

Não estaremos projetando nos bichos a agressividade insensata e cruel praticada nas guerras, no trânsito ou em brigas de família?

Há dois tipos de agressão, uma que resulta de ódio, de hostilidade, outra que corresponde a impulsos naturais e que tem objetivos bem definidos: conseguir alimento, defender a prole.

A agressão natural tem substrato neuroanatômico: a estimulação elétrica de certas áreas cerebrais, como o hipotálamo e a amígdala, causa, em animais, comportamento agressivo.

Também pesam os fatores hormonais e a genética. Mas os animais só usam a agressividade em situações específicas: por exemplo, enfrentando um inimigo, o bicho se vê cotejado com a alternativa luta ou fuga. Se ele tem chances, enfrenta. Se não tem chances, não hesita em fugir.

Nos seres humanos, e provavelmente só nos seres humanos, encontramos os dois tipos de agressividade, que variam de acordo com o sexo, com a idade, com o ambiente cultural e até com o QI: quando mais baixo este, mais agressiva pode ser a pessoa.

Álcool e drogas também podem estimular a agressividade e, para algumas pessoas, o carro: podemos falar de uma "direção agressiva", que é o contrário da "direção defensiva".

Em A C ivilização e Seus Descontentes, Sigmund Freud viu no conflito entre o desejo sexual e a repressão ao sexo imposta pela sociedade uma causa de agressividade.

E, finalmente, o psicólogo Albert Bandura constatou que crianças expostas a modelos agressivos de adultos eram mais propensas a atacar um boneco deixado entre seus brinquedos exatamente para "tentá-las".

A agressividade pode ser canalizada - para o trabalho, para o esporte. E a agressividade pode ser entendida. A pergunta básica é: por que estou agredindo essa pessoa? O motivo para isso está nela - ou está na minha cabeça? Uma pergunta que, às vezes, tem de ser examinada na terapia. Mas que, se queremos ser pessoas melhores, tem de ser examinada.

Agradeço os amáveis comentários da psicóloga e doutora em comunicação Ana Maria Rossi e de Maria Alice Mendes acerca da coluna sobre maratona e resiliência.

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