Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
02 de maio de 2008
N° 15589 - Liberato Vieira da Cunha
Hotel do Luar
Tem uma pousada em Porto Alegre, fronteira à Catedral Metropolitana, ao Palácio Piratini, à Assembléia Legislativa, ao Tribunal de Justiça, ao Theatro São Pedro, ao Memorial do Ministério Público.
É amplamente arejada, não dispõe de recepção, nem cobra diárias. Chama-se Marechal Deodoro e seus únicos leitos são os bancos de madeira e os canteiros gradeados.Trata-se de um estabelecimento de alta rotatividade.
De dia hospedam-se ali senhoras levadas a passeio por elegantes cães de sua particular estima e consideração, crianças que se divertem no rústico playground, namorados, funcionários das repartições vizinhas, fregueses de seu gratuito solarium, ruidosas delegações dos movimentos sociais, grevistas, filósofos, pichadores de estátuas, skatistas, jogadores de pelada, vendedores, políticos que cumprimentam conhecidos e desconhecidos com essa efusão tão própria da aproximação das eleições.
O grupo mais constante, no entanto, é o dos deserdados de esperança. À noite são praticamente os únicos que mantêm suas reservas nesse singularíssimo albergue risonho e franco - ou nem tanto.
No tempo das novelas de rádio, havia uma que se chamava Hotel do Luar. Não há mais novelas de rádio, mas a denominação é adequada ao vasto abrigo sob as árvores. Dizem que em Porto Alegre os moradores de rua não passam de umas poucas centenas.
Pois então a comissão de frente deve viver na Praça da Matriz. Dormem, em especial nesta época de ensaio de outono, transidos de frio. Preparam magras refeições em gastos utensílios de latão. Bebem, o que não raro os torna agressivos. Suplicam moedas aos passantes.
Há clochards em Paris, outsiders em Londres ou em Nova York, andarilhos em Roma ou em Madri. Mas, salvo engano, são pessoas que escolheram, por íntima vocação, esse tipo de hospedagem na vida. Não creio que seja o caso da mui leal e valorosa.
Aqui, os humilhados e ofendidos foram sentenciados sem culpa ao abandono no Hotel do Luar. Não é preciso preencher ficha de registro. E eles não tiram o sono dos múltiplos poderes que os rodeiam.
Ótima sexta-feira e um excelente fim de semana.
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