domingo, 25 de maio de 2008

"Eu faria isso pelo resto da minha vida"

Sarah Jessica Parker afirma que sentiu náusea ao reviver personagem para filme, mas que Carrie "voltou por conta própria"

"Há situações que não são próprias para ninguém com menos de 30", diz a atriz, surpreendida com o sucesso da série entre adolescentes

Divulgação


Chris Noth e Sarah Jessica Parker em cena do filme

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK


Assim que ela chega à suíte do hotel Ritz Carlton, em Nova York, com um vestido bege sob um blazer cinza e um sapato altíssimo de uma cor entre o bege e o cinza, é impossível não se espantar com o tanto que Sarah Jessica Parker é pequena. Baixinha, magrinha, miúda. Ela diz que sofre para manter o peso e que tem de ficar atenta para não emagrecer demais.

Tem o cabelo lindo, comprido, brilhante, e olhos azuis-turquesa. E tem tanto carisma que, ao fim da entrevista, a repórter mal se lembra da mão enrugada que entrega os 43 anos que ela tem -e que não faz questão nenhuma de esconder. Veja, a seguir, trechos da conversa de Sarah com a Folha.

FOLHA - Desde o fim da série, você virou empresária, seu filho cresceu, você passou de uma mulher de 30 e poucos anos para uma de 40 e poucos. Foi difícil voltar a viver a Carrie?
SARAH - Meu marido e eu conversamos muito sobre isso. Tanto ele como eu já saímos de uma peça na Broadway e voltamos. No começo, parece que você nunca vai conseguir lembrar as falas, mas, aos poucos, tudo volta. Com o perdão do clichê, é como andar de bicicleta, você usa a memória muscular, algo que não parece estar disponível, mas que está quando você volta a praticar. Fizemos esses papéis por muito tempo.

Não houve nenhum ensaio para o filme, só teve uma leitura de texto, porque não tínhamos tempo. No começo, eu tinha náuseas, achava que estava fazendo tudo errado. Aos poucos, fui relaxando e deixando a Carrie voltar por conta própria.

FOLHA - Você estava feliz com o fim de Carrie na série?
SARAH - Achei maravilhoso. Aliás, toda a última temporada foi emocionante, a gente sabia que estava caminhando para a conclusão, e cada episódio era ao mesmo tempo um a mais e um a menos, a gente ria e chorava, foi uma montanha russa emocional.

Não troco aquela experiência por nada. Se um dia eu disser que cansei da Carrie ou de "Sex and the City", pode saber que estou mentindo. Eu faria isso pelo resto da vida.

FOLHA - A série teve poucos personagens negros, mas, no filme, Jennifer Hudson participa como sua assistente. Foi uma opção por causa das críticas que a série recebia por isso?
SARAH - Mais ou menos. Durante a série a gente prestava atenção a essas críticas, mas o [diretor] Michael Patrick King dizia que não adiantava tentar consertar uma situação forçando a barra. Era preciso um personagem que tivesse a ver com aquele universo. Ao fazer o filme, ele escreveu a personagem e disse que queria a Jennifer Hudson. Falei: "Entre na fila".

Porque todos querem a Jennifer Hudson. Mas ela aceitou fazer um teste e foi uma surpresa para todos. Ela é linda, o que não dá para ver bem no filme "Dreamgirls", porque ela faz a não-linda da banda. E queria o papel, então deu tudo certo.

FOLHA - Já tem gente especulando que o filme terá uma continuação. O quanto há de verdade nisso?
SARAH JESSICA PARKER - Não existe nenhum plano de fazer outro filme, mas existe o sonho. Não gostaria de deixar para sempre de viver essa personagem nem de deixar para sempre de trabalhar com essas pessoas.

Se o público gostar desse filme, se o Michael Patrick tiver uma idéia tão boa quanto essa para um novo roteiro, tenho certeza de que ninguém vai dizer "não". É raro um ator ter um trabalho tão prazeroso e relevante quanto "Sex and the City". Mas, se tiver que acabar agora, terá sido uma trajetória maravilhosa.

FOLHA - O seriado é muito mais popular hoje do que no começo [os episódios foram vendidos a vários canais do mundo, que os reprisam]. Acredita que o filme sai na hora certa por causa disso?

SARAH - É assustador que a série tenha mais público agora. Antes, o público era muito selecionado, a gente falava quase de igual para igual. Agora, a série é vista por adolescentes, meninas que me reconhecem na rua e pedem autógrafo. Fico feliz e constrangida.

Não fizemos uma série para adolescentes, há situações lá que acho que não são próprias para ninguém com menos de 30 anos, mas o público de hoje em dia tem 16, 18, 20 anos. Sou muito mais reconhecida hoje em dia do que quando gravava o seriado. Só agora entendi a dimensão de ser uma atriz famosa por uma série de TV. É ótimo. Não reclamo do sucesso, mas fico ressabiada.

FOLHA - Por que você acha que os gays gostam tanto da série?
SARAH - Não sei explicar racionalmente. Meus amigos gays adoram a série, quase tanto quanto minhas amigas, que se viam naquelas mulheres até mais do que eu. Acho que a mistura do diálogo muito franco e bem-humorado, somado à busca de um amor verdadeiro, com ótimo sexo e roupas incríveis, tem a ver com o estilo de vida dos gays.

E a relação de uma mulher com seus amigos gays é tão profunda quanto a amizade com outras mulheres. Às vezes até mais, já que quase nunca entre uma mulher e um gay há a competição por outro homem. A maioria dos meus amigos é gay. Eles têm o dom de fazer uma mulher se sentir uma dama nos piores momentos.

FOLHA - Qual é a maior diferença entre você e a Carrie?
SARAH - Há milhões de diferenças, fizemos escolhas quase opostas na vida e temos histórias diferentes. Venho de uma família enorme, trabalhei desde criança, tenho um filho, sou casada há 16 anos. Antes disso tive só um relacionamento sério, por sete anos [com o ator Robert Downey Jr.]. Mas há semelhanças também, e a mais óbvia delas é a paixão por Nova York.

A maior lição de Carrie para mim foi como ser uma amiga melhor. Adoro o tipo de amiga que ela é, gostaria de ser mais como ela nisso. Não sei como essas mulheres encontram tanto tempo para dedicarem às amigas. Acho invejável.

FOLHA - Você reconheceu em Carrie uma grande personagem assim que leu o roteiro do piloto da série?
SARAH - É engraçado e meio constrangedor ver aquele piloto. Mas aquela última cena, dela e do Mr. Big no carro, quando os dois têm uma longa conversa sobre o amor, me fez querer saber mais a respeito daquelas pessoas.

Aquele final era tão rico, tão cheio de potencial, era irresistível. Mesmo assim, tive que ser convencida a aceitar o papel. Estava morrendo de medo de fazer uma série na TV.

FOLHA - O que deu tanto medo?
SARAH - Eu achava minha carreira maravilhosa antes da série [risos]. Fazia mais teatro, mas conseguia papéis em um filme ou outro, ganhava um dinheiro decente, o que poderia ser melhor? Tinha tempo de ver os amigos, jantava fora quase todas as noites... Era outro estilo de vida, mas eu adorava.

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