quinta-feira, 29 de maio de 2008



ZERO ERROS
Do livro "A Magia do Cotidiano"

Quem não conhece aquela dona de casa extremamente exigente com o serviço doméstico, tão exigente que as empregadas não demoram muito tempo na casa dela?

Ou aquela mãe que quando os filhos entram em casa com os pés sujos de lama ela fica mais preocupada com as manchas no piso do que com o perigo das crianças se resfriarem por estarem com os pés úmidos?

E aquele homem que se irrita facilmente com os erros dos outros – e para ele os outros estão sempre errando! – que critica e julga, que vê apenas os defeitos de tudo e de todos?

São os perfeccionistas, pessoas que têm mania de perfeição, mania de exatidão, mania de limpeza. Querem que o mundo funcione como se fosse um mecanismo perfeito de ordem e precisão, e quando as coisas não ocorrem dessa forma, é motivo para eles de grande irritação.

A impaciência com a lentidão alheia, com a poeira, com o barulho, com a falta de asseio, e até mesmo com os traços mais inocentes e inofensivos do caráter dos outros é uma de suas características.

A esposa que inferniza a vida do marido porque este espreme o tubo de pasta de dentes pelo meio, não levanta a tampa do vaso quando usa o sanitário, faz barulho quando toma sopa e assovia enquanto lava o carro está apenas expressando essa sua característica.

A atitude do perfeccionista diante das pessoas é sempre crítica. Frequentemente estão sobrecarregados de trabalho porque não querem delegar tarefas, já que ninguém consegue fazer as coisas de uma forma que os satisfaça.

Submetem seus empregados ou subordinados a uma vigilância constante e são incapazes de demonstrar compreensão e paciência com as limitações e deficiências dos outros.

Irritam-se com bobagens, com gestos e com pequenos hábitos das outras pessoas. Não admitem atrasos, mesmo que sejam mínimos e são implacáveis quando se trata de apontar um erro alheio, quando se trata de fazer uma crítica. Esquecem os 95% que dão certo e se concentram apenas nos 5% que dão errado.

Não têm senso de humor e têm dificuldade em gozar a vida. É o torcedor que não consegue se alegrar com a vitória porque o time jogou mal, e enquanto todo mundo está comemorando ele insiste em repisar todas as jogadas que não deram certo e em apontar todos os defeitos táticos e técnicos da equipe.

O pior de tudo é que ele não compreende como é que todo mundo consegue ficar tão alegre torcendo por um time tão ruim, mesmo quando este time se sagra campeão.

Geralmente, essas pessoas terminam ficando isoladas dos outros. Seu grau de exigência com coisas, situações ou pessoas é tal que nada o satisfaz.

É difícil encontrar um restaurante que lhe agrade, as pessoas não são suficientemente inteligentes, ou atraentes, ou interessantes, as lojas não têm artigos que lhe servem.

Quem não se lembra do Capitão Von Trapp no filme A Noviça Rebelde? Exigente e crítico, esperando que os filhos se comportassem dentro da mais perfeita ordem e disciplina, sacrificando até as manifestações de carinho e a expressão saudável das emoções.

O perfeccionismo é uma atitude extremamente geradora de tensão. Como o mundo não é perfeito e as pessoas não são perfeitas, muitas delas inclusive estando muito longe disso, os perfeccionistas vivem extremamente insatisfeitos e infelizes.

Essas pessoas têm uma tensão emocional que se expressa fisicamente por rigidez e dores nos ombros, no peito, nos braços e na mandíbula. São também candidatas fortes à ocorrência de cefaléias e enxaquecas.

O perfeccionismo é uma manifestação de intolerância, da incapacidade de colocar-se no lugar do outro. Nenhum de nós pode se arvorar em juiz do outro porque também temos nossos próprios defeitos.

Quando conseguimos identificar em nós sintomas desta desarmonia o caminho mais curto para superá-la é fazer as pazes conosco, desviando o foco dos outros e jogando mais luz sobre nós mesmos.

Sorrir, brincar, começar a exercitar a possibilidade de gostar de coisas que não sejam cem por cento, fazer concessões, deixar rolar, reconhecer a própria ignorância, são atitudes que ajudam muito.

É preciso entender que todos temos os nossos talentos e que todas as coisas têm vários aspectos. Você já reparou que existem flores, como o girassol, que desabrocham violentamente, se expondo em toda a sua glória amarela e luminosa? E que as pequeninas e tímidas violetas se escondem na sombra da folhagem de outras plantas?

As pessoas como as flores do universo, são do mesmo jeito. É preciso entender a maneira especial que cada uma tem de florir e desabrochar, enchendo o mundo de cores e perfumes variados.

Sabedoria é compreender e respeitar as limitações e diferenças porque é ela que dá beleza ao mundo.

Nenhum comentário: