quarta-feira, 28 de maio de 2008



28 de maio de 2008
N° 15615 - Martha Medeiros


O uso do telefone

Quando eu era menina, não existia e-mail, MSN, celular. Se a gente queria falar com uma amiga, era por telefone fixo mesmo. E a gente falava.

Como falava. Ficava horas naquele papo furado. Foi então que ouvi do meu pai: "Telefone não é para fazer visita". Ai, meus sais.

Só mais tarde é que entendi que ele estava coberto de razão: telefone é para dar um recado, combinar um encontro, marcar uma consulta, tirar uma dúvida, fazer um convite, agradecer uma gentileza, ou seja, questões mais ou menos rápidas, salvo quando é para matar a saudade de alguém, e ainda assim recomenda-se algum critério.

Critério: procura-se.

Hoje, o telefone virou um suplício, tudo por causa do telemarketing. Antes que os operadores reclamem: sei que vocês estão apenas cumprindo ordens e garantindo o leitinho de suas crianças do modo mais honesto possível.

Entendo e respeito. Mas é dose receber ligações em casa, a qualquer hora do dia e da noite, inclusive em finais de semana, com gente oferecendo todo tipo de promoção que você não solicitou.

A empresa tem que anunciar? Perfeito: rádio, jornal, tevê, revistas, faixas penduradas em aviões, tudo isso é menos invasivo e não incita à grosseria. Porque é difícil ser gentil com quem nos atazana.

Não sou a primeira nem a última a se queixar disso, e no entanto o telemarketing segue de vento em popa, o que me faz concluir que deve haver milhares de pessoas que apreciam e compram os serviços oferecidos, pois o empresariado não seria tão cabeça-dura a ponto de manter esse inferno se não houvesse demanda.

O curioso é que eu não conheço ninguém que tolere esta artilharia telefônica. Que ache ótimo receber telefonemas de empresas ofertando cartões de crédito ou fazendo pesquisa sobre atendimento. Nenhuma pessoa. Nenhumazinha.

E ainda tem aquelas gravações que impedem que você se comunique com um ser vivo. Ficamos feito idiotas conversando com uma máquina que não só é fria, como surda. O David Coimbra escreveu sobre isso outro dia e foi um esculacho perfeito.

E agora há um comercial de cerveja que também mostra o nosso desespero quando somos obrigados a fazer uma solicitação para alguém que não é alguém, e sim um ninguém eletrônico.

É tudo tão massacrante que está virando piada.

Telefone é um aparelho para contato entre duas pessoas que se conhecem, ou que não se conhecem mas têm um assunto em comum que precisa ser resolvido. Não é uma porta escancarada para que estranhos entrem sem convite. E a educação, onde fica?

Claro que a errada é sempre quem reclama. Devo estar sendo radical e intolerante. Mas não estou só. São muitos os nostálgicos que sonham com o dia em que os telefones não sejam mais usados para fazer propaganda.

E que telefonistas de carne e osso voltem a ocupar seus postos e aguardem nossa ligação: "Bom dia, em que posso lhe ajudar?"

Me belisca.

Uma ótima quarta-feira - Aproveite para namorar, amar, ser e fazer alguém Feliz.

Nenhum comentário: