sábado, 24 de maio de 2008



25 de maio de 2008
N° 15612 - Paulo Sant'ana


A esperança

Eu tenho uma desconfiança de que uma das causas básicas da loucura é a ausência completa da esperança.

Porque está comprovado que a causa básica do suicídio é a ausência mais completa da esperança.

E quando o desesperado não consegue suicidar-se por qualquer razão, entre tantas a falta de coragem, ele acaba enlouquecendo.

Isso tudo porque quando a gente passa pela rua e vê aquela multidão indo e vindo, o que a move é, em última essência, a esperança.

O que leva as pessoas à frente é a esperança.

Até mesmo as pessoas felizes circunstancialmente têm a esperança de que continue sua felicidade - ou de que, se ela se for, retorne em outra oportunidade.

Os crentes de todas as religiões nutrem a esperança de serem acolhidos no reino dos céus, de encontrarem-se em outra vida com seus profetas e com Deus.

Apenas, no caso dos crentes, a esperança tem outro nome: fé. Mas a fé é a base de todas as religiões. Por ela, os fiéis têm a certeza de que serão salvos, que estão no único caminho certo. E isso os anima na vida e os faz diferentes das outras pessoas desnorteadas ou repletas de dúvidas.

As mulheres jovens se incendeiam na esperança de virem a ser mães. E as mulheres que já foram mães têm como única razão de vida a esperança de que seus filhos se realizem e sejam felizes.

O cadete tem esperança de vir a ser coronel, o soldado de vir a ser sargento, o taxista de vir um dia a deixar de ser empregado e vir a ser proprietário de um táxi.

É imprescindível a esperança na vida das pessoas. Nem que seja a esperança de vir a ter esperança.

A capacidade de pensar de um cérebro, de pulsar de um coração e de manter-se ereto e movimentar-se de um corpo dependem da esperança.

Quando não houver mais esperança, a pessoa desiste e morre. Ou enlouquece, é o meu palpite, porque a ciência ainda não identificou bem a causa da loucura.

Eu aposto que é a ausência mais completa da esperança.

Por isso é que Chesterton, um dos maiores pensadores modernos, disse "que louco é aquele de quem tiraram tudo menos a razão".

E o que quis dizer Chesterton com isso? Que foram tiradas tantas coisas de uma pessoa, todos os seus encantos, sonhos, haveres, afetos, crenças, a esperança, todos os seus valores, destroçaram-na e decepcionaram-na tanto, que acabou sobrando-lhe só a razão. Sozinha, ela também soçobrou e deu lugar à loucura.

A pessoa virou nada porque a razão não sobrevive sem os fatos.

Os fatos é que muitas vezes se desenrolam desastradamente sem a razão.

Toda a energia do homem deriva da esperança, isto é, da convicção, da certeza ou até dúvida de que poderá vir a ser feliz.

Como já expliquei outra vez, em face de que a felicidade, por ser efêmera, não existe, o dever do homem, em última análise, é procurar vir a ser menos infeliz.

Mas mesmo não podendo vir a ser feliz, porque a felicidade não existe, o homem obviamente sobrevive sem a felicidade.

Mas não tem nenhuma chance de sobreviver sem a esperança de ser feliz.

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