quinta-feira, 29 de maio de 2008



SABEDORIA POPULAR

Há quem não acredite na sabedoria popular. Não é o meu caso. Como não crer na seguinte conclusão? Mulher gostosa é como cerveja gelada: esquenta rápido e dá dor de cabeça, mas todo mundo quer tomar.

Somente a experiência milenar de bebedores de cerveja disciplinados e filosóficos poderia conceber uma síntese tão perfeita.

Todo bebedor de cerveja é um publicitário frustrado, um filósofo amador ou um gênio incompreendido, salvo quando se trata de um publicitário bem-sucedido, de um filósofo profissional e de um gênio compreendido pelos seus colegas de boteco.

O bebedor de cerveja é um eremita que passa a vida recolhido à mesa do seu bar predileto refletindo sobre a condição humana. Vez ou outra, como um peripatético (nada a ver com aquele famoso personagem de José de Alencar), pensa caminhando. Até o mictório mais próximo.

Dizem que Nietzsche concebeu a sua teoria cíclica do eterno retorno depois de observar uma turma de bebedores de chope indo e vindo do banheiro à mesa. Descartes teria chegado ao 'penso, logo existo' depois de ouvir um bebedor de cerveja dizer: 'Bebo porque existo'.

A sabedoria popular evoluiu muito. A auto-ajuda não faz melhor e ainda custa dinheiro. A psicanálise é uma espécie de sabedoria popular para as elites. O problema é que as fórmulas nem sempre são tão claras e divertidas. Já que Lacan nem sempre resolve, o negócio é pegar o atalho.

A sabedoria popular é pragmática. Até parece o capital. Se tiver risco, cai fora. Vai se dar bem noutra praia. De acordo com a sabedoria popular, político é como mágico: só vende ilusão. Essa é velha? É velha, mas cola.

Toda eleição é a mesma história. Como diz o ditado, conversa mole em cabeça dura tanto bate até que fura. É voto na urna. A sabedoria popular, altamente difundida por bebedores de cerveja, é obcecada pelas 'boas'. Eis uma prova: campanha eleitoral é como mulher gostosa.

Nada mais do que uma promessa passageira de felicidade na qual todos fazem de conta que acreditam. Afinal, a sabedoria popular é machista? Não. Só os bebedores de cerveja. Mas nem todos. Ao menos antes da quarta loura bem gelada.

Na sabedoria popular, só os clichês emplacam. Por exemplo, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mas uma coisa leva a outra e as duas juntas levam a uma quadrilha. Só não levam à cadeia. Parece a política brasileira.

O nexo entre bebedor de cerveja, mulher gostosa, sabedoria popular e política é evidente. Já mostrei isso em outras ocasiões. Grandes temas, no entanto, precisam ser retomados à luz de novas informações. Como diz o ditado parlamentar, quanto mais se ordenha a vaca, maior é a teta. O quadrúpede, contudo, é sempre o mesmo.

Quem? Quem mesmo? Eu não seria capaz de indelicadeza com o contribuinte. É o Estado. Aí um figurão da política gaúcha, preocupado com a vaca, me esclareceu: o problema do Detran era de direção. Disse mais, muito mais: aquela turma não estava habilitada.

O problema ali, concluiu, era a fundação. Um grande buraco! Foi nesse momento que comecei a pensar na sabedoria popular, entrei em crise, fui beber cerveja e ouvi esta novidade: a corrupção é um saco sem fundo. Até parece mulher gostosa.

Quer mais todo dia. Que me desculpem as mulheres, gostosas ou não, mas conversa de bebedor de cerveja é fundamental. É o que garante a sabedoria popular. Quando um não quer, aumenta-se a propina.

juremir@correiodopovo.com.br

Ainda que gelada que tenhamos todos uma ótima quinta-feira

Nenhum comentário: