sábado, 31 de maio de 2008



01 de junho de 2008
N° 15619 - David Coimbra


O soco de Joe

Joe Louis trabalhava em uma fazenda do Alabama. Quando se sentia entediado, escolhia algum dos touros do lugar e lhe desferia um murro entre os chifres. Tão poderoso era o soco de Joe Louis que o touro bambeava e, blof, caía desmaiado.

Um dia, um esperto empresário do mundo do boxe viu Joe Louis fazer esse número e, impressionado, o convidou para repeti-lo. Só que, em vez de esmurrar touros no campo, Louis ia espancar homens nos ringues. Ele topou e, em pouco tempo, tornou-se campeão mundial.

Joe Louis só foi superado como ídolo do boxe por Rocky Marciano, provavelmente o maior pugilista da história, o homem que inspirou Silvester Stallone na seqüência de Rockys do cinema. Rocky Marciano nunca foi derrotado e nunca empatou uma luta. Venceu todos os seus 49 confrontos, 90% deles por nocaute.

Rocky Marciano derrotou inclusive Joe Louis. Mas foi um Joe Louis envelhecido, cansado, sem a velha potência dos socos capazes de pôr feras para dormir. Depois de nocautear Joe Louis, Rocky Marciano esperou que ele se reerguesse e foi cumprimentá-lo.

- Você é meu ídolo - confessou, estendendo-lhe em admiração a mão que o derrubara.

Era bela a história do boxe, o esporte mais marginal de todos os esportes.

t Hoje, o boxe acabou. Quando os americanos liquidaram com Mike Tyson, liquidaram com o boxe. É muito difícil um esporte sobreviver sem ídolos, e Mike Tyson foi o último grande ídolo do boxe. Não existe mais um Rocky Marciano, não existe um Joe Louis. Quem havia era Mike Tyson, mas Mike Tyson era marginal demais até para o boxe. Negro, egresso dos bairros pobres de Nova York, mal-educado, tosco, agressivo, desajustado, os americanos não podiam suportá-lo. Não o suportaram. Acabaram com ele.

t O futebol brasileiro, na prática, não tem mais ídolos. Os grandes jogadores, os jogadores de Seleção, os craques estão todos na Europa. Como o futebol brasileiro consegue sobreviver? Aí está: por causa dos clubes.

O torcedor ama o clube. Mais até do que ama o futebol. Os clubes é que sustentam o futebol brasileiro e o brilho do futebol europeu. Os clubes, tão vilipendiados, tão maltratados, tão desprezados pela CBF.

Enquanto os clubes vicejarem, vicejará o futebol brasileiro. Mas por quanto tempo os clubes agüentarão seleções sub-qualquer coisa, pirataria européia, Lei Pelé, por quanto tempo? A sobrevivência do futebol brasileiro é um milagre do amor do torcedor.

Beijo no coração

Tem gente que se despede:

- Um beijo no coração.

Sinto-me estranho quando dizem que querem dar um beijo no meu coração. Como é que alguém vai dar um beijo no meu coração? Teriam que me abrir a caixa torácica. Não há beijo que valha isso.

Outra: se algo é muito fácil é sopa no mel.

Sopa no mel??? Um crime gastronômico. Mel na sopa ainda seria compreensível. Aquele chefe catalão, o Ferran Adriá, deve ter feito algum prato de sopa com mel. Esses sabores contemporâneos, sabe como é. Agora, sopa no mel é impensável. Imagine um prato cheio de mel no qual se derrama sopa de, sei lá, capeletti. O horror, o horror.

Não, não entendo essa expressão sopa no mel.

A expressão "gostinho de quero mais", essa compreendo. Mas detesto. É meio afetada. Ai, estou sentindo um gostinho de quero mais... Francamente.

Às vezes o melhor é usar a linguagem padrão, por menos criativa que seja. No futebol, o mesmo. Os técnicos agora dizem que o atacante está "flutuando atrás dos zagueiros". Dizem isso inclusive quando não está chovendo. Não pode um atacante flutuar, nesse jogo. Só se fosse pólo aquático.

Também tem essa história de stopper. O que é um stopper? Explicaram-me que um stopper não é um líbero, nem um zagueiro, nem um centromédio. É um jogador que ora atua na frente da zaga, ora atrás da zaga, ora no meio da zaga. Isso é um stopper. Quer dizer: não sei o que é um stopper.

Aliás, agora mesmo falei em centromédio, só que centromédio não existe mais. O que existe é volante. Mas volante, etimologicamente falando, é, por definição, móvel.

Então como é que se chama a posição de jogadores como Edinho e Eduardo Costa, que ficam fixos na frente da área? Pois é. Também não sei.

E a assistência, hein? O Roger é o jogador que dá mais assistências no Brasil. A Saúde Pública está precisando de um cara desses. O futebol está ficando complicado, sim, senhor.

Nenhum comentário: