terça-feira, 27 de maio de 2008


Samantha Maia - Valor Econômico
27/5/2008


Desigualdade salarial cai com o aumento da escolaridade

O aumento da escolaridade média do trabalhador está ajudando a reduzir a desigualdade salarial. Segundo levantamento realizado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), enquanto em 1981 uma pessoa tinha um salário 16,4% maior que outra com um ano de escolaridade a menos, em 2006 essa diferença caiu para 11,3%.

O universo considerado pelo estudo é de homens de 25 a 60 anos, uma forma de neutralizar o impacto do maior ingresso de mulheres no mercado de trabalho, o que dificultaria a detecção dos efeitos específicos do fator educação.

Segundo a economista Prisci-lla de Albuquerque Tavares, autora da pesquisa, depois da década de 80 ter sido caracterizada por um aumento da desigualdade salarial provocada pela entrada no mercado de trabalho de poucas pessoas mais qualificadas, o Brasil estaria passando hoje por um período de transição entre os efeitos maléficos e benéficos do incremento educacional sobre os salários, que deve durar ao menos mais quatro anos.

O aumento de mão-de-obra qualificada no mercado de trabalho faz com que seja preciso ter um nível de educação cada vez mais alto para que o salário seja expressivamente maior.

"O mercado sempre vai remunerar mais de acordo com a escolaridade, mas à medida que a qualificação começa a ficar generalizada, essa diferença tende a diminuir", diz a pesquisadora.

O levantamento mostra que em 20 anos a média da escolaridade dos trabalhadores brasileiros considerados na amostra praticamente dobrou. Em 1981, esse assalariado tinha em média 4,4 anos de estudo. Até 2006, a média subiu para 7,4 anos.

Dentro desse total, o percentual de trabalhadores com ensino médio foi o que mais cresceu, de 16,6% para 38,3% no período. O número de pessoas com diploma de graduação também sofreu uma alta significativa. Em 2006, as pessoas empregadas com ensino superior representavam 12,6%, frente a 8,7% em 1981.

No começo dos anos 80, a diferença entre o rendimento salarial médio dos 10% mais pobres e o dos 10% mais ricos da amostra da pesquisa era de 12 vezes. A pesquisadora acha que essa relação é mais representativa da sociedade brasileira do que considerar as duas pontas extremas entre o maior e o menor salário.

Quando se considera os dois extremos, essa diferença hoje no Brasil, pegando todo o universo de trabalhadores acima de 10 anos, homens e mulheres, é de 1,7 mil vezes, segundo dados da última PNAD.

No fim da década de 80, a diferença salarial se acentuou devido ao ingresso de poucas pessoas mais qualificadas no mercado de trabalho, e o salário médio dos 10% mais ricos chegou a valer 16,5 vezes a média do grupo dos 10% mais pobres (no universo analisado pela pesquisa). Foi nos anos 90 que essa desigualdade salarial começou a cair, reduzindo para 13 vezes a relação entre os maiores e os menores rendimentos.

De 2001 a 2006, essa diferença caiu ainda mais, e ficou em 9,5 vezes. "Os investimentos em educação estão dando seus frutos agora, e a problemática passa a ser mais a qualidade, e não o acesso", diz a economista.

A pesquisa mostra que a influência do fator educação nos salários tem aumentado atualmente conforme cresce a presença de pessoas com ensino médio no mercado de trabalho. A partir dos anos 90, ganhou força a universalização da educação até o ensino médio, e 10% da queda da desigualdade salarial foi influenciada pelo aumento da escolaridade.

Esse percentual é obtido quando são comparadas a evolução dos salários entre pessoas diferentes apenas em relação aos anos de estudo. De 2001 a 2006, o impacto da educação sobre a diminuição da diferença salarial foi ainda maior, de 22%.

Esse movimento tende a ser intensificado a partir de 2012, segundo a pesquisa. Isso porque, hoje, apesar da alta da média de anos de estudo, ainda há muita gente no mercado de trabalho com baixa escolaridade, o que impede uma maior homogeneização dos salários. Quase metade dos assalariados em 2006 (49%) não tinha terminado o ensino fundamental.

Por meio de uma simulação considerando as expectativas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep-MEC) sobre a evolução educacional de crianças que estão atualmente em idade escolar, a pesquisadora projetou que, em 2012, 13,5% dos trabalhadores assalariados no Brasil terão curso superior, 44,6% terão concluído o ensino médio, 25,1% terão estudado até a oitava série e 16,7% não terão completado a quarta série.

Essa composição já permitirá uma queda sustentável da desigualdade de salários, segundo a pesquisadora. "Esse efeito tende a impactar por muito tempo e a partir dele é que começaremos a observar salários ainda menos desiguais", diz Priscilla.

Como já teve colegas de nosso mestrado da PUC/RS fazendo regressões sobre o assunto achei interessante postar aqui, pode ser que surjam alguns ensaios sobre o tema.

Nenhum comentário: