
15 de maio de 2008
N° 15602 - Paulo Sant'ana
Carroças na França
O Batata Pimentão veio me tirar satisfações no fumódromo: "Eu quero que tu me digas em que lugar do mundo há carroças puxadas a cavalo, no trânsito, para recolher lixo".
Fiquei quieto, humilhado, cheguei a pensar em dizer para ele que no Central Park, em Nova York, há carruagens transportando turistas.
Mas como não era de lixo o transporte, fiquei quieto, esperando uma oportunidade de devolver a humilhação.
Não levou um dia para eu me vingar, Zero Hora publicou ontem uma notícia espetacular: "Preocupadas com questões ambientais relacionadas às mudanças climáticas, as prefeituras de cerca de 70 pequenas cidades francesas estão substituindo veículos motorizados por carroças puxadas por cavalos para realizar serviços públicos como coleta de lixo, transporte de pessoas e manutenção de jardins".
Mais esta agora: as carroças evitam a poluição.
A notícia joga mais lenha na fogueira da polêmica das carroças.
Só o que faltava era acabarem com as carroças em Porto Alegre e anos depois fazê-las voltar às ruas para evitar a poluição.
Fico imaginando que no futuro as cidades optarão por veículos que não sejam automotores, como carroças, charretes e bicicletas para se tornarem mais respiráveis.
Seria um retorno à pureza ambiental, na contramarcha do progresso destruidor do meio ambiente.
Parece que esta última agitação sobre o problema das carroças na Capital atingiu seu objetivo: há toda a aparência de que as autoridades e os poderes constituídos estão conscientes, caso haja a proibição das carroças, de que deverá acontecer uma destinação social às famílias dos carroceiros, com aproveitamento em atividade paralela dos carroceiros, impedindo um holocausto da classe e seus familiares.
Recebi muitos e-mails de pessoas contrárias às carroças, mas notei que eram as tradicionalmente contrárias, que usam como argumento ou pretexto os maus-tratos que alguns carroceiros infligem a seus cavalos.
Mas depois que andei de carroça pelas ruas, uma onda de simpatia com os carroceiros invadiu a cidade. As pessoas se comoveram com as condições de miserabilidade dos carroceiros em suas casas, com a desproteção de seus filhos, com os ganhos reduzidos deles em sua atividade.
Como me disseram muitos e escreveram, ficaram conhecendo o outro lado da questão.
Mas é um dilema em que tanto os que são contra os carroceiros quanto os que se postam a favor têm razão.
E qualquer pessoa que for dar opinião, como eu dei, será bombardeada por um dos dois lados.
Já enfrentei muitas questões desse tipo, sei quanto é difícil opinar em assunto que compreende duas fatias ideológicas.
No entanto, o que vale é que se instigue o meio social a refletir.
A reportagem por nós feita visava trazer novamente à tona o problema, para que ele não ficasse dormindo nos escritórios de planejamento do governo municipal e nos escaninhos dos anteprojetos da Câmara Municipal, onde em seguida já foi feita, na Comissão de Justiça, uma votação a respeito.
E o prefeito José Fogaça já anunciou que está preocupado com a questão, que certamente fará parte dos debates da eleição de outubro próximo.
Quanto a mim, me recuso a ver categorias sociais exterminadas por um golpe de caneta. Eu tenho obrigação moral e profissional de proteger os que estão na iminência de serem destroçados.
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