segunda-feira, 19 de maio de 2008


Coisas da Política :: Tales Faria- Jornal do Brasil - 19/5/2008

Whats this allabout, comrade?

Traduzida literalmente, a frase em inglês, acima, quer dizer algo como: o que é isso tudo, camarada? Foi a forma como o jornal The New York Times certa vez traduziu o título do livro do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) O que é isso, companheiro?

Pois é, os americanos não entendem bem o significado da expressão "o que é isso", que tem mais um sentido de "pára com isso". Daí que talvez a tradução ficasse melhor como "Don’t do it, comrade".

De uma forma ou de outra, nunca antes a expressão - seja em inglês, seja em português – coube tão bem ao próprio The New York Times.

Ontem, o jornal publicou reportagem intitulada De quem é essa floresta amazônica, afinal?, na qual lembra declaração, de 1989, do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, segundo o qual, "ao contrário do que os brasileiros acreditam, a Amazônia não é propriedade deles, ela pertence a todos nós". Nem o verdejante Gabeira gostou da abordagem:

"Trata-se de uma formulação equivocada. A solução para a Amazônia depende inevitavelmente dos brasileiros, passa por um projeto sob a autoridade nacional, embora com abertura para financiamentos externos.

Eles falam lá de fora, do espaço em que estão, sem saber das dificuldades que têm aqui aqueles que defendem a preservação da floresta. Não compreenderam, como nós aqui, que tudo nessa área, no Brasil, passa pela negociação, pelo entendimento.

E dizer que nós brasileiros não somos capazes é um absurdo. O problema que temos agora é só o de encontrar uma figura com autoridade nacional para colocar todo mundo na mesa em condição de discutir as soluções para os problemas da Amazônia".

De fato, a saída de Marina Silva do comando do Ministério do Meio Ambiente mostra que não foi uma boa decisão escolher o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, para coordenar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), que é o grande espaço de negociação do tema.

Mangabeira Unger definitivamente não transita entre os ecologistas, e isso é fundamental para quem for negociar.

Na verdade, nem o escolhido para substituir Marina Silva no comando do Ministério, o secretário do Ambiente do Rio, Carlos Minc, parece sentir-se em condições de exercer esse papel de negociador das grandes soluções para a Amazônia.

Talvez pelo preconceito em torno do fato de ser um preservacionista carioca, sem experiência em assuntos amazônicos.

"Meu amigo Minc é ágil e inteligente, mas ainda tem que transitar do ecossistema político litorâneo para o da política amazônica e brasiliense", brinca Gabeira.

Pelo menos Carlos Minc sabe de suas limitações. Tanto que insiste na necessidade de se entregar o PAS ao ex-governador do Acre Jorge Viana.

Amigo de Marina, consultor de empresas e hábil nas artes da negociação política, Viana teria como comandar as negociações entre os diversos setores a respeito da Amazônia.

Ontem, Minc voltou a falar do seu nome. Mas o ex-governador do Acre não parece disposto a aceitar, numa espécie de compromisso com a ex-ministra Marina Silva.

Para piorar as coisas no governo, também Mangabeira Unger não está disposto a largar o osso.

O ministro de Assuntos Estratégicos está simplesmente apaixonado pela idéia de gerir o PAS. Tem dito a seus interlocutores que só sai de lá se for por ordem direta do presidente Lula. E, assim mesmo, vai tentar argumentar ao contrário.

Essa será uma grande briga dentro do governo, para a qual os assessores mais próximos do presidente começam a se preparar. De um lado, Carlos Minc, insistindo na busca de um novo nome para comandar o PAS.

De outro, o atual coordenador do programa, Mangabeira Unger, lutando para ficar. Correndo por fora, a todo-poderosa ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, contrária à nomeação de um ecologista para o comando do PAS. E Jorge Viana, que seria a solução natural, sem querer aceitar.

Minc tem espantado parte da imprensa com declarações fortes, do tipo "não queria o comando do Ministério". Não é comum um ministro assumir falando grosso, como se o presidente dependesse dele, e não o contrário. Mas o caso agora é um pouco este.

A saída de Marina Silva, embora todos no governo neguem, fragilizou o presidente da República. Especialmente junto à imprensa internacional.

A forma de Lula voltar a se fortalecer é mostrar que não substituiu Marina por um ministro fraco.

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