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quinta-feira, 22 de maio de 2008
CLÓVIS ROSSI
Chantagem e orgulho
SÃO PAULO - E acabou em pizza mais uma CPI, desta vez a dos Cartões Corporativos. Nada mais lógico: farinhas do mesmo saco, como são situação e oposição, servem pizza com toda a naturalidade.
A rigor, a CPI só serviu para revelar a indigência do debate e da ação política no Brasil contemporâneo.
A situação conspira no Palácio do Planalto, como ficou cabalmente demonstrado, não para a defesa da coisa pública, mas para provar que a oposição é igual a ela nos gastos exóticos com dinheiro público.
Só faltou demonstrar quem, na Casa Civil, liderou a conspiração para chantagear a oposição com um dossiê que a "novilíngua" lulo-petista prefere chamar de "banco de dados" ou "banco de dados seletivo", como afirmou, com o cinismo de praxe, José Aparecido Nunes Pires.
Aliás, com idêntico cinismo, ele disse que, sim, o vazamento saiu de seu computador, mas o envio não foi "consciente". Pura palhaçada.
Já a oposição prefere a pizza a aprofundar a investigação, o que dá direito a qualquer um que não esteja em uma "boquinha" ou em outra a desconfiar que a chantagem funcionou.
É melhor parar com tudo do que permitir que se descubram gastos ainda mais exóticos, de um governo ou do anterior.
Ouvi parte dos depoimentos de anteontem e, francamente, dá vontade de cortar os pulsos de desespero com o baixíssimo nível de um nutrido grupo de parlamentares que, ou fazem perguntas idiotas, ou tiram conclusões ainda mais idiotas.
Houve quem, na bancada governista, insinuasse mandar prender André Fernandes, o receptador do vazamento, exatamente por ter promovido o vazamento do vazamento que recebeu.
Ridículo. Se há alguém, no episódio, que merece prisão é, acima de tudo, quem mandou fazer o dossiê-chantagem. Mas, no Brasil de hoje, chantagem política não é crime, é motivo de orgulho.
crossi@uol.com.br
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