21 de maio de 2008
N° 15608 - Sergio Faraco
Velozes e furiosos
Em nossas cidades e estradas, a freqüência de acidentes de trânsito com vítimas fatais, segundo o jornal, chegou a números inaceitáveis, escandalosos. Não há dia em que não parta alguém desta para a pior.
De certas causas, muita gente fala: a canha, a droga, a imprudência, a desatenção e, entre os mais descerebrados, a sensação de poder que o automóvel supostamente pode dar. De outras, quase não se fala, e são as silenciosas, que habitam os lugares mais recônditos da alma do condutor.
Por exemplo: a machidão. Ou por outra: sua aparência.
O condutor das derrapadas exibicionistas, das arrancadas desnecessárias, das ultrapassagens temerárias e da velocidade tresloucada nas vias urbanas ou rurais é um macho, por assim dizer, arrependido.
O macho genérico!
Não é para as mulheres que ele quer se mostrar, quem não sabe que a mulher aprecia no homem outras qualidades? É para seus iguais, e isto, afinal, gera certa desconfiança, não gera?
Ele agarra o volante como quem segura um par de bíceps, a mãozinha não larga o ferro das marchas, e escancara o buraco da descarga sob o pretexto de fazer barulho.
Barulho, é? Sei.
Vamos deixar claro que meu sufrágio não é favor nem contra essa propensão de homem ansiar por homem, que entre os gregos tinha lá seu prestígio - embora não me pareça muito romântica a cena imaginada por Fausto Wolff, em que o gajo que está embaixo pede ao que está em cima:
"Me dá um beijo, Euclides?" Voto em branco e isto quer dizer que, para meu governo, cada qual tem o direito de escolher a marcha que vai levá-lo ao paraíso, se engata uma primeira ou vai de ré.
Mas, puxa vida, tem de assumir a escolha, não é? Do contrário acaba se suicidando ao volante ou matando quem nada tem a ver com suas quimeras desatendidas.
De distinta extração é o furioso, que todas as manhãs vai tirar o pai da forca, e buzina, e dá sinal de luz, e faz gestos obscenos, e insulta, um desvairado gladiador em sua biga, a pedir passagem aos carroções da Via Ápia.
Entre todos os motoristas, este é o pior. O mais ordinário. O mais vil. Ele agride o Outro como se o Outro fosse o responsável por suas dificuldades. As conjugais, em regra.
Recente pesquisa na Mongólia concluiu que 78 por cento dos furiosos não conseguem satisfazer sexualmente suas parceiras mongolinas, metade por ausência de mastreação peniana e a outra metade por espirro precoce, logo que começa a coisa. Os restantes 22 por cento são tão bestiais que já nascem com apêndices ósseos no alto da cabeça.
Isto lá, aqui eu não sei.
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