sexta-feira, 23 de maio de 2008


NELSON MOTTA

Loura dura vê a coisa preta

RIO DE JANEIRO - Vai longe o tempo em que John Lennon e Yoko Ono cantavam "Woman Is the Nigger of the World". Era uma dupla ousadia: "nigger" é um palavrão tão ofensivo para os afro-americanos que, mesmo quando indispensável, jornais e TVs não ousam dizê-lo e o substituem por "the "N" word".

Para Lennon, em 1972, as mulheres eram os seres mais oprimidos do mundo. Hoje, uma mulher e um negro disputam a Presidência americana, com boas chances de chegar lá.

Condoleezza Rice é a segunda pessoa mais poderosa dos Estados Unidos. E certamente não está distante o dia em que um(a) gay disputará a confiança, o respeito e as esperanças dos eleitores americanos.

Hillary, a loura dura, é mais mandona, autoritária e viril do que a maioria dos homens. Pelo menos bem mais do que o suave e envolvente Bill Clinton.

Assim como ela, muitas executivas americanas, nas guerras corporativas, reproduzem e ampliam os defeitos que denunciavam nos homens: dureza, frieza, intolerância, autoritarismo, competitividade sem limites, o trabalho como prioridade máxima, o amor ao poder e ao lucro. São mais temidas do que os machões.

As feministas furiosas assustaram os moderados, e a maioria dos democratas percebeu que, mulher ou homem, não queria mais uma cobra criada de Washington, de nariz empinado e dedo em riste.

Preferiam um novato com o carisma, a fala mansa e as vagas idéias de mudança de Obama, sem se importar com a cor da pele. Não por raça nem por sexo: uma questão de estilo.
Mas os maiores oprimidos da Terra, dizia Paulo Francis, são sempre as crianças.

De todas as classes sociais e etnias, são elas que mais sofrem com a violência, a intolerância e o autoritarismo dos adultos. E crescem preparadas para oprimir os outros.

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