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sexta-feira, 23 de maio de 2008
23 de maio de 2008
N° 15610 - Opinião ZH | David Coimbra
O bom do dinheiro
Não é que odiássemos os publicitários, nós jornalistas.
Apenas os desprezávamos, eles e aqueles rabinhos-de-cavalo deles. Tínhamos muito claro onde se homiziava o nosso maior inimigo: nas salas refrigeradas do Departamento Comercial. Natural: nós jornalistas, o que nos movia eram os princípios, a luta contra as injustiças, a defesa dos oprimidos.
Em suma, a Verdade, com vê em caixa alta. Os publicitários? O que eles queriam era o vil metal, e para isso tentariam nos comprar, nos corromper. Mas nós não estávamos à venda, rapaz! Isso é que não!
Com esses olhos que já viram a imponência do Duomo de Milão e a delicadeza dos pés da Letícia Birkheuer, vi mais de um jornal ser arrastado às franjas da bancarrota graças a alguns dos nossos elevados ideais.
Mas isso foi no passado. Hoje, os jornalistas compreenderam que só farão bom jornalismo se existir jornal, e o jornal será tão independente quanto mais forte for.
Era uma disputa ingênua e inútil, Redação versus Comercial. Semelhante a que se verifica hoje entre os ambientalistas e os desenvolvimentistas.
Se é verdade que o desenvolvimento desbragado ergue inviabilidades como São Paulo, também é verdade que nunca na história deste país, como gosta de dizer o Lula, houve tantas chances de crescimento.
O Brasil dispõe de uma indústria flexível, uma agropecuária diversificada e uma democracia estável, condições que nem os outros Bric, Rússia, Índia e China, possuem. Falta infra-estrutura - material e humana.
Faltam estradas e energia, falta educação e mão-de-obra qualificada. O governo federal, enfim, trabalha para fornecer essa infra-estrutura, a economia internacional está favorável, tudo parece dar certo, aí o ambientalismo fundamentalista se instaura no coração do Estado como força solapadora.
Há 149 projetos do PAC enredados na burocracia do Ministério do Meio Ambiente. Se é assim, que se vá Marina Silva. E deixe a Dilma trabalhar.
O ambientalista inteligente sabe que o melhor instrumento de preservação da natureza é o dinheiro. Com dinheiro é possível montar um sistema de vigilância competente na Amazônia.
Com dinheiro, as grandes cidades podem fazer sistemas de transporte seguros e qualificados. Londres, com seus pounds, cavou uma eficiente rede de metrô e, na superfície, o carro paga pedágio. Não é muito mais sensato do que a proibição em rodízio da circulação de carros imposta em São Paulo? Dinheiro e competência, é assim que se faz.
Corpus?
Em 2006, quando cheguei à Suíça para cobrir a preparação da Seleção para a Copa, era feriado. Perguntei por quê. Corpus Christi, informaram. Certo.
Na semana seguinte, havia outro feriado. Quis saber qual era. Eles: Corpus Christi. Respondi que não podia ser, que na semana anterior é que era Corpus Christi. Argumentaram que existiam dois: um para os católicos, outro para os protestantes. Tudo bem.
Mas, transcorrida mais uma semana, fui para a Alemanha, e era feriado.
- Qual feriado? - perguntei. E o alemão lá: - Corpus Christi.
Eles gostam muito de Corpus Christi, esses europeus.
Ontem, saí a indagar por que fazíamos feriado, o que exatamente estávamos comemorando. Diziam-me: o corpo de Cristo. Como assim? Simplesmente festejamos o corpo? Ninguém sabia direito.
Devia ter perguntado na Alemanha.
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