quinta-feira, 29 de maio de 2008



29 de maio de 2008
N° 15616 - Leticia Wierzchowski


Das noites insones

Tive meu segundo filho faz poucos dias e, para escrever estas linhas, venho das brumas do mundo das mamadas e das fraldas.

Quem teve filho há pouco tempo, seja homem ou mulher (os pais de hoje dividem as madrugadas numa boa com as respectivas mamães dos seus rebentos), sabe bem do que eu estou falando. Quem teve filho há tempos já esqueceu. Esse é um dos segredos da proliferação da nossa espécie: a memória seletiva.

Enfim, aqui estou. Feliz e morrendo de sono. A falta de sono é uma coisa dura: a gente deita na cama, sob as cobertas quentinhas, e no bom de um sonho a babá eletrônica começa a chiar: no quarto ao lado, a coisa ferveu.

É preciso levantar e ir aos remos, vencer as intempéries da primeira infância junto com seu filhote, acalmá-lo nas suas misteriosas dores, nos seus inomináveis medos - é preciso cantar, embalar e inventar rimas Quase todo mundo dá uma de Chico Buarque com o filho no colo. Mas, quem não gosta de ousar, recorre à própria infância, desencavando cantigas da época do Ariri.

É gostoso Aquele pacote quentinho, de olhos arregalados mirando a gente, tanto amor que nem dá pra descrever. Isso na primeira hora. Na segunda, morrendo de sono, a gente só faz shiss-shiss - e balança mais rápido a criança.

Como um carro vencendo uma determinada distância, temos a idéia de que x balançadas levarão nosso filho ao sono. Ah, mera tolice. Existem certas madrugadas em que você pode balançá-los ad infinitum, e eles não dormem.

Eles não querem dormir. Você, morto de cansaço, cantando há uma hora e meia, já está ninando a si mesmo: é preciso redobrar a atenção, segurar a cria com mais força, olhar onde pisa pra não tropeçar no vazio. Mas seu bebê segue impávido, de olhos arregalados. Depois a gente vai pelo dia afora, se arrastando pelas horas.

Pequenas tarefas e obrigações rotineiras se acumulam (isso sem falar nos cuidados pessoais, nos jornais diários, naquele romance mofando sobre o criado-mudo).

Já os bebês, ah, esses dormem a tarde inteira, e assim se recuperam das suas noitadas. Eu ando precisando dormir umas horas a mais - de preferência, noturnas.

Tenho, inclusive, cometido algumas besteiras: dia desses, encontrei uma fralda descartável suja de xixi na gaveta das fraldas limpas. Aliás, se vocês virem algum erro de português nesse texto, pelo menos eu tenho uma boa desculpa.

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