terça-feira, 2 de outubro de 2007



Crônica de Távola
Terça 02-10-07


INAUGURAÇÃO

Estamos em outubro e consideramos o que nos pode trazer de novo. Desejamos o novo porque dele não somos capazes. Nossa tendência é o eco, a repetição.

O novo é incômodo porque deriva de uma ânsia de recomeços ou da redescoberta da forma inaugural de se relacionar com tudo. Somos seres marcados por inenarrável tendência a nos proteger com o já sabido, trilhado ou iluminado.

O novo assusta porque se conota com o livre e o criativo. É a capacidade de encontrar a solução (sempre parcial e diferente) para enigmas que se repetem.

O novo inquieta porque não nos obriga a acertar, e sim a experimentar. O novo é a coragem da esperança (e a esperança é a qualidade da espera).

O novo não depende de mudança (depende de como ver, ouvir, sentir e saber, sem enfocar da mesma maneira tudo o que nos acontece, apesar de semelhante na aparência).

O novo infiltra-se na capacidade de descobrir. O novo é o verso, o outro lado, o adiante, o além e até o aquém, nunca, porém, o mesmo. O mesmo é inimigo do novo, ainda que venha disfarçado no diferente ou no impermanente.

Cada momento é sempre novo. Nós é que não somos novos a cada momento. Por isso a liberdade não é uma conquista: é uma aspiração.

Liberdade é o novo através da capacidade de preferir a insegurança à infelicidade. Quem optou pelo eterno-provisório está inseguro, embora mais perto da felicidade.

O novo consiste em não negar o mistério e não temer a verdade. Há um mistério em cada verdade e uma verdade em cada mistério.

O mês jamais será novo, nem a semana é nova. A natureza não (se) rege por calendários: estes são criações dos homens. Cada dia será igual a sempre e a todos. Você, porém, poderá ser novo a cada dia, o que o fará sempre diferente.

Seja novo no minuto, inaugure-se! Só então, cheio de medo e insegurança, você poderá aspirar a si mesmo, livre o suficiente para enfrentar qualquer prisão: a maior das quais é a realidade.

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