quinta-feira, 4 de outubro de 2007


CLÓVIS ROSSI

Futebol, asas e incentivos

SÃO PAULO - O Real Madrid já tem o seu Aerolula, ou mais exatamente "La Saeta", um MD-83 assim rebatizado em homenagem a Alfredo Di Stéfano, apelidado de "Saeta Rubia" (Flecha Loira) nos tempos em que era uma espécie de Pelé branco, o grande craque de um planeta ainda não globalizado.

Mas, ao contrário do Aerolula, que só dá despesas ao dono (eu, você, nós), "La Saeta" é fonte de negócios: os torcedores que quiserem viajar com o Real Madrid pagarão 65 mil anuais (algo em torno de R$ 170 mil), uma fortuna. Daria para fazer todo mês Brasil/Espanha/ Brasil em classe executiva.

Ah, o avião do Madrid atendeu à reivindicação do ministro Nelson Jobim: reduziu o número de assentos de 170 para 139, de forma a aumentar o espaço para 93 centímetros, em vez dos 73 usuais.

O avião continua pertencendo à Iberia, mas a delegação do clube tem direito a cerca de 30 vôos grátis por temporada. Como ocupará, no máximo, 55 lugares, fica o resto para negócios.

Conto essa história, publicada anteontem em "El País", não para ironizar o Aerolula (mas também não ia perder a piada pronta). Conto porque é mais uma demonstração, em escala luxo, de que o futebol se tornou um portentoso "business", que já não cabe apenas nas páginas de esporte.

Tanto é assim que um ícone acadêmico extraordinário, como Eric Hobsbawm, fala dele e sua entrevista à Folha, ainda por cima, é comentada, justamente nesse aspecto, por um acadêmico do porte do historiador Boris Fausto.

Falo também porque o presidente Lula cobrou, outro dia, incentivo ao futebol feminino. Nada contra, presidente, mas, atenção.

Se a transferência de jogadores para o exterior continuar no ritmo atual, quem vai precisar de incentivo é o futebol masculino, para não ficar do mesmo e pequeno tamanho do feminino. Ou do badminton.

crossi@uol.com.br

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