terça-feira, 2 de outubro de 2007



02 de outubro de 2007
N° 1538 - Moacyr Scliar


Saúde: boas notícias

Recebi, da Secretaria Estadual da Saúde, a publicação Estatísticas de Saúde, com dados referentes à situação de saúde no Estado.

O livro evidentemente não se destina a ser um best-seller; na verdade, não se trata de leitura amena, pois o volume de 180 páginas é formado quase que exclusivamente de tabelas. Mas o exame dessas tabelas é entusiasmante, para dizer o mínimo, e até comovente.

Em termos de saúde, o RS melhorou muito, mas muito mesmo, a começar por aquele que é o mais básico dos indicadores, a mortalidade infantil. Em 1986, de cada mil crianças nascidas no Estado, 24,3 morriam antes de completar um ano de idade. Dez anos depois essa cifra tinha se reduzido para 18,3. Atualmente, ela é de 13,1.

Ou seja: em 20 anos, a mortalidade infantil do RS reduziu-se quase à metade, e aproxima-se rapidamente dos números referentes a regiões desenvolvidas. É claro que ainda não estamos ao nível do Japão (3,2) ou do Canadá (4,6). Mas estamos muito longe de Angola (185) ou da Nigéria (96). Mais que isto, estamos bem abaixo da média nacional, que é 27,6.

Outro dado importante: cerca de dois terços dos óbitos infantis correspondem à fase neonatal, o período de um mês após o nascimento. Parte desses óbitos resulta de defeitos congênitos que dificultam ou impedem a sobrevivência (por exemplo, a anencefalia, ou ausência de cérebro).

Ao contrário, em 1970 a maioria das mortes infantis ocorria depois do primeiro mês de vida, por doenças como diarréia, pneumonia, sarampo - enfermidades que agora estão sendo evitadas ou devidamente tratadas. Esse fato reflete a ação de medidas preventivas, como a vacinação e o abastecimento de água potável de boa qualidade.

Em 1970, os óbitos de crianças menores de um ano representavam cerca de um quinto do obituário geral; em 2006 caíram para 2,6%. Uma das conseqüências desse fato foi o aumento da expectativa de vida. Ao nascer, um gaúcho pode esperar viver cerca de 73 anos (70 se for homem, 77 se for prenda: o velho mito da fragilidade feminina...).

Aí já não estamos tão longe das regiões desenvolvidas: na França, a expectativa de vida é de 80 anos, no Japão de 81 anos. Isto porque a expectativa de vida no RS cresceu: era de 66 anos em 1970.

A pergunta óbvia é: como a gente compatibiliza essas boas novas com as sombrias notícias da mídia acerca de problemas no atendimento? É preciso dizer, em primeiro lugar, que uma coisa não exclui a outra.

A melhora nos indicadores reflete o bom desempenho dos programas de saúde pública. Mas a assistência médico-hospitalar tem suas características próprias.

Para começar é muito mais sofisticada e portanto custa muito mais caro. E aí as limitações se fazem sentir. Isto não significa que devemos aceitá-las.

Já houve época em que vacinar era difícil. A palavra-chave aí é racionalidade. É preciso adotar prioridades tecnicamente corretas, é preciso gerenciar adequadamente os programas. Não é, como mostram os indicadores de saúde, missão impossível.

Falando em medicina e saúde, o tradicional Hospital Moinhos de Vento faz 80 anos. Não é só um aniversário. É uma celebração.

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