terça-feira, 9 de abril de 2013



09 de abril de 2013 | N° 17397
PAULO SANT’ANA

O menino paralítico

O meu motorista é muito importante na minha vida, mais do que a minha mulher, tanto que durante todos os dias eu vivo mais junto ao meu motorista do que à minha mulher.

Por isso, o meu motorista consegue uma façanha: ele me irrita mais do que me irrita a minha mulher.

Vejam como me irrita o meu motorista. Ele me disse o seguinte: “E noto que, sempre que vamos abastecer o carro no posto de gasolina, o senhor se exaspera com o preço do combustível. Então, tive uma ideia para baratear o preço da gasolina para o senhor. É a seguinte: a gente irá abastecer não só com o tanque vazio, mas com o tanque cheio principalmente. O senhor verá então que, com o tanque cheio, a gasolina custará muito menos para o senhor.

Esta ideia me surgiu porque notei que, erradamente, nós só vamos abastecer quando falta gasolina. Era burrice minha ficar avisando o senhor de que faltava gasolina. Daqui por diante vou encostar no posto sempre que o tanque estiver cheio, será enorme a sua economia”.

Mas não é de irritar? Outro caso com o meu motorista. Meu carro possui um monitor de câmera de ré, que me mostra na tela, quando vou dar marcha a ré, os obstáculos que há atrás do meu carro. É maravilhoso o Outlander, da Mitsubishi, que a Ramada me vendeu.

Mas meu motorista, que gosta do equipamento, me disse ontem que não entende por que a montadora não botou também uma câmera na frente do carro, onde ele poderia ver o que acontece na dianteira.

Não adiantou eu explicar para ele que a visão da frente do carro ele a tem por seus próprios olhos. Não é de irritar?

O Teledomingo, da RBS TV, tem mostrado todas as semanas uma imagem deprimente: aparece um menino paralítico, todo torto da cabeça aos pés, noticia-se que há tempo espera por uma cirurgia reparadora mas não há chance de ser operado na Santa Casa, está numa fila para cirurgias e é o 37º colocado para ser operado.

Deve ser operado lá pelo ano de 2035. O próprio dirigente da Santa Casa diz que há uma falta clamorosa de cirurgiões que tratam da ortopedia pediátrica.

Não entendo por que então não chamam um ortopedista que opera adultos e passem a operar esse menino urgentemente.

É uma barbaridade o que fazem com esse menino, que não consegue nem levantar a cabeça, e a imagem desoladora dele vai ao ar todos os domingos no Teledomingo.

Esse menino é um libelo que se faz contra o governo do Estado, contra o governo municipal de Porto Alegre e contra o governo federal, responsáveis pelo SUS. Como os três são responsáveis, então a responsabilidade passa a ser de ninguém.

Mas está sendo gasto quase R$ 1 trilhão dos cofres públicos para realizar no Brasil a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e a Olimpíada.

Isto não é uma cretinice nacional? Como é que vão gastar fortunas colossais com esses três megaeventos e não há recursos para operar crianças paralíticas?

Como é que é? Eu sinto vontade de desaparecer do Brasil e não carregar mais no meu lombo essa vergonha.

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