terça-feira, 9 de abril de 2013



09 de abril de 2013 | N° 17397
DAVID COIMBRA

O que são Lula, FHC e Getúlio

Lula é camisa 10.

Dilma, não. Dilma até pode ser responsável pela vitória, mas não é 10. É 5. É volante. Um Dinho, que foi dos melhores volantes que vi dentro de uma chuteira, um centromédio perfeito, mas que jamais seria 10. Fernando Henrique é 10, decerto que é. Serra? Camisa 2, um lateral-direito esforçado. Um Pará.

Alckmin é aquele ex-junior que, quando júnior, parecia que ia vingar, mas gorou. Tipo os gêmeos Diego & Diogo, do Inter. Tipo Tia Joana, do Grêmio, se bem que tenho uma tese psicológica sobre o Tia Joana. A seguinte:

Esse Tia Joana era para ser o novo Rivellino. Nos juniores, deixava todo mundo embasbacado: “Como joga esse guri...” Finalmente, foi promovido a profissional, e quando isso aconteceu ouviu-se o som das trombetas e das fanfarras.

Então, seu primeiro pedido foi que parassem de chamá-lo de Tia Joana. Preferia nome e sobrenome: Renato Lima. Nesse momento, tornou-se um comum. Como Tia Joana era único, como Renato Lima era igual a muitos. Ao perder o apelido, perdeu a identidade. O que, imagino, jamais aconteceu com Alckmin. Ele sempre foi Renato Lima, nunca Tia Joana.

Getúlio Vargas era um 10, e Oswaldo Aranha e João Neves da Fontoura, não. Esses eram armadores de habilidade, como se fossem Falcão e Carpegiani chegando de trás.

Quem viu Carpegiani jogar talvez diga que ele era um 10. Não era. Era um 8. Dez era Zico, Rivellino, Pelé, Tostão, Rivaldo. Dez é Ronaldinho Gaúcho. O 10 centraliza o jogo, como centralizava Carpegiani, como centralizam D’Alessandro e Zé Roberto, mas o 10 também irrompe área adentro, parte para o drible desconcertante na meia-lua e faz gols, muitos gols. Carpegiani, D’Alessandro e Zé Roberto não fazem.

Luxemburgo disse que Marco Antônio é bom, mas não é 10. Não é. Hoje em dia, poucos são. Que falta faz um 10.

Viver e aprender

Valdomiro, quando chegou ao Inter, era um tosco. Tinha velocidade e potência de chute, não muito mais do que isso. Com ele aconteceu algo que só se repetiria décadas depois, com Ronaldinho Gaúcho: foi vaiado por sua própria torcida, ao marcar um gol pelo seu próprio time, dentro do seu próprio estádio.

A torcida do Inter odiava Valdomiro. Queria um virtuose. Queria um bailarino. Mas Valdomiro não desistiu. Nem ele, nem seu treinador, Daltro Meneses, que o chamou no recôndito do vestiário e disse:

– Você é o meu primeiro titular. Saem todos, menos você.

Com confiança, Valdomiro começou a treinar. Treinava e treinava. Aprendeu a cruzar em curva, da linha de fundo, colocando a bola na testa do centroavante. Aprendeu a bater falta com precisão letal, a bola passando por sobre a cabeça do terceiro homem da barreira e entrando no gol a cada três cobranças. Aprendeu a acompanhar o lateral, a marcar e a ajudar o meio. Tornou-se o jogador mais importante do melhor Inter de todos os tempos.

Leandro, que estava no Grêmio e agora está no Palmeiras, tem velocidade e força, como Valdomiro. Atrapalhava-se com a bola, trançava as pernas, era um afoito. Parece estar evoluindo, já fez até gol na Seleção. Quem sabe não está aprendendo?

As pessoas evoluem. As pessoas podem aprender.

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